DARKTHRONE - A BLAZE IN THE NOTHERN SKY (1992)






Texto
de autoria de Marco Néo





A
Blaze in the Northern Sky é o segundo álbum de estúdio dos
noruegueses do Darkthrone, lançado em 2 de março de 1992 pela
gravadora Peaceville Records. As gravações ocorreram durante o mês
de agosto de 1991 no Creative Studio, e a produção é da própria
banda.







Como
já é praxe do blog, traremos um histórico da banda com vistas a
inserir o leitor no contexto que os levou à criação deste que é
considerado um dos mais influentes trabalhos da segunda onda do Black
Metal.













As
origens do grupo remontam a 1986, ano em que o baterista e vocalista
Gylve Nagell formou o Black Death, banda de Death Metal, com os
guitarristas Ivar Enger e Anders Risberget. No ano seguinte, 1987,
influenciados por um fanzine underground dinamarquês de nome
Blackthorn (por sua vez influenciado pela música Jewel Throne, do
Celtic Frost), decidem mudar o nome da banda para Darkthrone.
Com esse nome a banda, já acompanhada do baixista Dag Nielsen, grava
uma demo, Land of Frost.





No início
de 1988 Anders Risberget sai do grupo e Gylve decide adicionar à
banda um sujeito que havia conhecido por amigos em comum, Ted
Skjellum. Com essa formação o Darkthrone lança mais três
demo-tapes, sendo que na última, Cromlech, lançada no final de
1989, o baterista, que sempre afirmou ter assumido os vocais por
falta de capacidade dos outros integrantes, decide passar a função
de vocalista para o “novo membro”.







Fenriz





A
essa altura o
Darkthrone tocava um estilo de Death Metal
tradicional, com composições trabalhadas, que despertou o interesse
da gravadora inglesa Peaceville. O interesse resultou em contrato e o
consequente lançamento do primeiro disco da banda,
Soulside
Journey
, em 1990.





Soulside
Journey
é um disco de Death Metal que segue a à época novíssima
linhagem sueca de bandas como Nihilist/Entombed, Grave
e Dismember. O disco foi, inclusive, gravado no Sunlight Studios, que
produziu grande parte dos clássicos das bandas de Estocolmo. As
letras das músicas mostravam, já naquela altura, o interesse dos
membros pelo ocultismo.





Logo após o
lançamento do primeiro trabalho o Darkthrone começou a compor músicas para um
segundo disco de Death Metal, que seria intitulado Goatlord. Contudo, a essa
altura, já no primeiro semestre de 1991,
começam a frequentar a loja Helvete, de propriedade do guitarrista
Euronymous, líder do Mayhem, e, instantaneamente influenciados pelo clima
daquela cena ainda incipiente,
decidem abandonar o alegado “comercialismo” do Death Metal de
então, optando por um som mais primitivo, calcado em bandas da
primeira onda do Black Metal, como Bathory e especialmente
Hellhammer/Celtic Frost, além do extremismo dos
trabalhos iniciais de bandas alemãs como Destruction e Sodom. Também
passaram a utilizar-se do corpse paint para suas apresentações ao
vivo e adotaram pseudônimos. Gylve se tornou Fenriz, Ivar adotou o
nome Zephyrous e Ted passou a se apresentar como Nocturno Culto.
Insatisfeito com as decisões e o novo direcionamento de seus companheiros, Dag Nielsen,
ainda um fã de Death Metal, decide sair da banda.







Aqui, da mesma época, formação ainda com o baixista: Nocturno Culto, Dag Nielsen, Zephyrous e Fenriz.





Com
isso, em agosto de 1991, acompanhados de Dag que, mesmo tendo saído,
concorda em gravar as linhas de baixo, entram em estúdio para gravar
A Blaze in the Northern Sky. A obra demoraria mais de seis
meses para ser lançada pela Peaceville que, esperando um novo CD de
Death Metal, mostrou-se surpresa e contrariada pelo novo
direcionamento estético (em vez de uma capa mais elaborada, optou-se
por uma foto preto-e-branco tirada à noite, com pouquíssima
definição, do guitarrista Zephyrous orgulhosamente ostentando seu
corpse paint) e, principalmente, musical dos noruegueses (a gravação
foi considerada “sem peso”) e passou a pressionar a banda
para que não soltassem o que considerava um “suicídio comercial”.





Cabe
aqui uma última anedota: em meio à batalha com a Peaceville,
Fenriz chegou a afirmar para os ingleses que, caso eles não
quisessem lançar o álbum, Euronymous estava pronto para fazê-lo
por seu próprio selo, Deathlike Silence Productions, que àquela
altura já tinha em seu catálogo The Awakening, dos suecos do
Merciless e se preparava para lançar o disco de estreia do
Burzum. A gravadora capitulou e, em março de 1992, sai o
segundo disco de estúdio do Darkthrone, um dos primeiros e
mais influentes trabalhos daquela que ficou conhecida como a
segunda onda do Black Metal.







Nocturno Culto





Faixas:





1.
Kathaarian Life Code





O
disco se inicia com uma introdução sorumbática, podendo-se ouvir
ao fundo o que parecem ser orcs anunciando: “we are a blaze in the
northern sky”. Todo esse clima culmina em um espasmo instrumental
violentíssimo. E assim é apresentado ao mundo o Black Metal
norueguês, gravação lo-fi e uma agressividade espantosa que não
era sequer sugerida em Soulside Journey. As influências de Bathory
e Hellhammer/Celtic Frost são fortes.





Um
detalhe que não passa despercebido e que acompanha a carreira da
banda até hoje são os acordes tocados em cordas soltas,
contrastando com os riffs construídos com cordas abafadas por 99% do
mundo metálico - inclusive por eles no disco de estreia - até então.





Quanto
às letras, apesar de não fugirem da blasfêmia comum às outras
bandas da época, mostram uma criatividade vários níveis acima de
seus pares:





Desert...
Night...


Coyotes
feel the cold wave of the dark


Red
eyes eat through


The
vast nocturnal landscapes


A
strong light – the only light


This
is where he made sculptures


From
the visions that created the force





Baphomet
in steel for the flesh of cain


A
throne made by remains


Of
12 holy disciples





2.
In the Shadow of the Horns





Mais
Celtic Frost, aqui ainda mais escancarado que na música de abertura,
com um andamento bem cadenciado e riffs primitivos. A esta altura já
nos acostumamos com a sonoridade lo-fi. Não, melhor, esse tipo de
disco não soaria correto com qualquer outro tipo de sonoridade que
não essa. Vale prestar atenção: aos 1min10s, temos uma introdução
de Fenriz no melhor estilo dos shows de Frank Sinatra. “Nocturno
Culto!!!”





Nas
letras, mais blasfêmia, aqui beirando o surrealismo.





The
triumph of chaos – has guided our path


We
circles the holy Sinai – our swords gave wings


Invisible
force of our abyssic hate


Our
seeds boil as we gaze upon the new millenium





Weeping
by the graves of the glorious ones


(so)
the hardened frost melts away


Clouds
gather across a freezing moon


I
kiss the goat – witchcraft still breathes





3.
Paragon Belial





Ainda
que mantendo um ritmo mais cadenciado e uma batida primitiva, os
riffs são o grande destaque dessa música, com acordes peculiares em
sua dissonância e, ouso dizer, melódicos em alguns momentos. O
disco tem apenas seis músicas, quase todas muito longas. Paragon
Belial, com “apenas” 5min25s, é uma das mais curtas.





A
blasfêmia aqui é mais filosófica.





The
boiling sea beneath


The
castle of faust


Belial
finally comes forth





The
ancient white light writings


Were
just living men and their pens


You
are the same, only in black.


Return
with the knowledge


Of
making your own god”





4.
Where Cold Winds Blow





Aqui
o ritmo volta a acelerar, em mais uma música com claras influências
de Bathory dos dois primeiros discos. A letra fala de um guerreiro
caído, relembrando suas batalhas e glórias.





I
was, indeed, a king of the flesh


My
blackened edges; still they were sharp


Honoured
by the carnal herds


But
asketh thou: closed are the gates?





My
mind cut my winged weapons


And
teeth that was my pride


And
from the forest all would hear:


Wisdom
opens the gate for the king”





5.
A Blaze in the Northern Sky





A
música título do disco é mais uma com andamento acelerado, uma
atmosfera ríspida e violenta, contrastando com uma letra
melancólica, lamentando a perda do orgulho nórdico, obliterado pelo
cristianismo. No fim, a banda promete um retorno pagão. Como uma
chama no céu do norte.





It
took ten times a hundred years


Before
the king on the northern throne


Was
brought tales of the crucified one





Coven
of renewed delight


A
thousand years have passed since then –


Years
of lost pride and lust





Souls
of blasphemy,


Hear
a haunting chant –





We
are a blaze in the northern sky


The
next thousand years are OURS





6.The
Pagan Winter





Mais
selvageria sonora no último som do disco. Um chamado para a guerra
que trará de volta o paganismo para o norte. O inverno pagão. O
disco termina com uma outro que repete a intro.





Horned
master of endless time


Summon
thy unholy disciples


Trained
for centuries to come


Gather
on the highest mountain


United
by hatred...


The
final superjoint ritual...





Considerações
finais:





Mesmo
com a briga entre o Darkthrone e a gravadora Peaceville e a
consequente demora em ser lançado, A Blaze in the Northern Sky é
considerado um dos pioneiros do Black Metal norueguês. Ao contrário
das previsões pessimistas da gravadora, o disco, para os padrões do
underground metálico, vendeu bem desde seu lançamento e se tornou
um clássico não só do Black Metal norueguês mas do Metal como
estilo, sendo influência para um número incontável de bandas ao
redor do mundo.







Zephyrous





Conforme
pesquisa realizada no site Wikipedia, “em sua resenha retrospectiva
do álbum, Eduardo Rivadavia do
AllMusic deu uma nota 5 de 5
estrelas, chamado-o de "um clássico cujos padrões sonoros
lo-fi iriam indefensavelmente revigorar toda a cena do black metal".
Valefor do
Metal Reviews escreveu que "viria a definir o
True Black Metal [...] com sua produção crua, riffs simples, capas
em preto e branco... puro mal congelante". Channing Freeman do
Sputnikmusic considerou o disco como "triunfante",
uma mistura equilibrada de "produção gélida e cantos
guturais" e "um senso de comunidade".





Em
2009, o IGN incluiu A Blaze in the Northern Sky em sua
lista "10 Great Black Metal Albums", enquanto um artigo de
2007 da Decibel magazine o chamou de "o verdadeiro
primeiro álbum de blackened death metal". A revista inglesa
Kerrang! o classificou como "uma marca d’água escura
para o Black Metal" e a música “In the Shadow of the Horns”
como "sete minutos de uma desafiadora produção lo-fi,
propósito gélido e simplicidade bruta”.





Após
algumas apresentações esparsas em sua terra natal, a banda decide
não fazer mais shows e se torna um projeto de estúdio, com seus
membros tendo empregos “normais”.





Após
o sucesso de A Blaze in the Northern Sky, o Darkthrone
gozaria de uma longa e respeitada carreira que dura até os dias
atuais.













Formação:


Nocturno
Culto - Guitarra, Vocal


Zephyrous
- Guitarra Base


Fenriz
- Bateria, Backing Vocals


Músicos
adicionais


Dag
Nilsen - Baixo





Faixas:


01.
Kathaarian Life Code - 10:39


02.
In the Shadow of the Horns - 7:01


03.
Paragon Belial - 5:24


04.
Where Cold Winds Blow - 7:26


05.
A Blaze in the Northern Sky - 4:57


06.
The Pagan Winter - 6:35





Letras:


Para
o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.metal-archives.com/albums/Darkthrone/A_Blaze_in_the_Northern_Sky/612





Opinião
do blog:


A
Blaze in the Northern Sky
é um divisor de águas no que se
refere ao Black Metal. Mais do que qualquer outra banda da cena
norueguesa, a aspereza do som da fase clássica do Darkthrone
apontou o caminho a ser trilhado por grande parte, se não a maioria,
da cena.





O
que temos aqui é uma obra que, na época, gerou confusão entre os
headbangers. Alguns abraçaram a proposta da banda de imediato,
outros repudiaram a extrema crueza daquela sonoridade propositalmente
tosca. Nada como o tempo para curar as feridas e nos mostrar o
verdadeiro pioneirismo dessas seis músicas gravadas e lançadas de
forma totalmente descompromissada por músicos que, mais do que o
sucesso, queriam fazer aquilo que os agradava, sem se preocupar com
opiniões exteriores, e lutar por sua visão artística.





O álbum
tornou-se, juntamente com os dois próximos
discos do Darkthrone, uma fonte inesgotável de consulta
para jovens bandas que pretendem se arriscar no Black Metal, seja na
rispidez das músicas, seja nas letras ora blasfemas, ora remetendo à
mitologia pagã ou mesmo às histórias nórdicas. Não podemos,
ainda, nos esquecer da parte estética. Ora, uma capa em preto e
branco exibindo os membros de uma banda de Black Metal com toda sua
parafernália e corpse paints tornou-se regra.





Não
há muito mais palavras para descrever (ou elogiar) essa obra de
arte. Se você já a conhece, não perca mais tempo e vá apreciá-la
novamente. Se não a conhece, eis aqui uma grande oportunidade de
conhecer um capítulo pivotal da história do Metal. Enquanto outros
grupos da época se preocuparam em queimar igrejas e/ou cometer
assassinatos, o
Darkthrone teve participação fundamental na
criação estética e musical da segunda onda do Black Metal.
Indispensável.

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