ANGRA - HOLY LAND (1996)








Holy Land é o segundo álbum de estúdio da banda
brasileira Angra. Seu lançamento oficial ocorreu em Março de 1996, pelo selo
JVC e com a produção sob as responsabilidades de Charlie Bauerfeind e Sascha
Paeth. As gravações ocorreram no ano de 1995, nos estúdios Hansen (Hamburgo),
Big House (Hanover) e HG (Wolfsburgo), todos na Alemanha.













O Angra se tornou um dos grandes expoentes do Heavy
Metal brasileiro, conquistando uma boa base de fãs fora do país, em locais como
a Europa e o Japão.





A banda Angra foi formada por volta do ano de 1991,
quando o guitarrista Rafael Bittencourt voltou dos Estados Unidos com a ideia de
constituir um grupo que conseguisse fazer a fusão da agressividade do estilo
Heavy Metal com a profundidade da música erudita, ainda com generosos toques da
música brasileira.





Rafael, que à época cursava a faculdade de Música
na FASM – Faculdade Santa Marcelina - em São Paulo (pela qual se graduaria em
Composição e Regência no ano de 1996), encontrou-se com o já renomado vocalista
André Matos e decidem formar um grupo.





Matos já era um músico de sucesso quando ele se
encontrou com Rafael Bittencourt – eram ambos colegas da Faculdade de Música, na
FASM – pois havia sido vocalista da banda Viper entre os anos 1985 a 1990.





O guitarrista André Linhares, o baixista Luís
Mariutti e o baterista Marco Antunes foram chamados para constituírem a
primeira formação do Angra, juntamente com o vocalista André Matos e o
guitarrista Rafael Bittencourt.





Rafael Bittencourt










Matos trouxe consigo o primeiro empresário do
grupo, Antônio Pirani, conhecido desde os tempos do Viper. Pirani, com quem a
banda teria muitos problemas depois, era proprietário da revista Rock Brigade
e, também, da Rock Brigade Records.





A ideia do grupo era aproveitar a boa fase da
vertente do Heavy Metal conhecida como “Power Metal”, já que no início dos anos
90 bandas como Helloween e Gamma Ray estavam em alta em lugares como Europa,
Japão e o Brasil, claro.





Pouco tempo depois o guitarrista André Linhares
deixa a banda, sendo substituído por André Hernandes. Este também não permanece
por um longo período e o seu substituto seria o jovem, mas talentoso
guitarrista Kiko Loureiro.





Kiko Loureiro:










Com André Matos nos vocais, Rafael Bittencourt e
Kiko Loureiro nas guitarras, Luís Mariutti no baixo e Marco Antunes na bateria,
o Angra realiza ensaios por durante um ano antes de gravarem sua primeira “fita
demo”, chamada Reaching Horizons, em 1992.





Pouco conhecidos de público e crítica, o Angra
assina com a JVC Records, rumando para o Japão para realizarem a gravação de
seu primeiro álbum. Lançado em novembro de 1993, Angels Cry é a estreia do
grupo.





O álbum apresenta a proposta do grupo em fundir o
Heavy Metal com a música clássica, obtendo ótima repercussão no Brasil e,
principalmente, no Japão. Pouco tempo antes das gravações, o baterista Marco
Antunes deixou o grupo, com o instrumento sendo gravado pelo baterista Alex
Holzwarth.





Angels Cry possui alguns clássicos do grupo. A
excelente faixa título é um marco da banda. Além desta, o disco continha o
clássico “Carry On”, a excelente “Time” e o cover inusitado de Kate Bush
chamado “Wuthering Heights”.





Quem acaba assumindo a bateria do Angra foi Ricardo Confessori.





Em 1994, a banda é convidada para fazer a abertura
do AC/DC no Brasil e também para participar do Monsters of Rock, tocando com
nomes como Black Sabbath, KISS e Slayer. Depois, o grupo embarca em uma turnê
nacional que depois se estenderia pela Europa já no ano de 1995.





Foi no ano de 1995 que a banda iniciou o trabalho
de composição e gravação do que se tornaria o seu segundo álbum de estúdio,
Holy Land.





As gravações acabariam se estendendo por cerca de 8
meses, já que o vocalista André Matos teve sérios problemas em suas cordas
vocais durante a turnê na Europa naquele ano.





Holy Land acabaria por se tornar um álbum
conceitual, uma vez que o foco de suas músicas seria representar o Brasil por
volta do ano de seu “descobrimento”, 1500.





Assim, musicalmente, o trabalho apresenta muitas
influências de música brasileira, além de apresentar referências aos indígenas
e seu folclore. A Europa é representada, musicalmente, por muitos arranjos
clássicos.





A primeira canção do disco é uma missa de Giovanni
Pierluigi da Palestrina – representando a primeira missa realizada no Brasil,
celebrada por Henrique de Coimbra? – e as canções subsequentes apresentam o
Brasil antes do descobrimento e as mudanças realizadas após a chegada dos
portugueses.





A arte da capa foi desenhada por Alberto Torquato.





André Matos:










CROSSING





A primeira faixa de Holy Land é “Crossing” que,
como foi dito, é uma missa composta por Giovanni Pierluigi da Palestrina. É uma
canção curta, totalmente instrumental, a qual funciona como introdução para a
segunda música do álbum.













NOTHING TO SAY





A
segunda faixa de Holy Land é “Nothing To Say”.





Já no início da canção é percebida a influência de
musicalidade brasileira na faixa, pois a mesma apresenta sonoridades nacionais,
em especial na bateria. Entretanto, rapidamente a música se transforma em um
típico “power metal”, com um riff pesado e bem veloz, característico do estilo.
Matos opta por fazer um vocal bem cadenciado e mais suave, sem muitas firulas.





As letras representam o início da conquista da
terra brasileira:





Guilt and shame, it's all so insane


Pagan gods die with no defence


And we could go no further at all


Digging the graves of our conscience





“Nothing To Say” é uma das canções mais clássicas
do Angra. Ironicamente, em um álbum cheio de referências à música brasileira, a
faixa é, talvez, a mais tradicional dentro da vertente “power metal”. Presença
obrigatória nos shows do grupo.













SILENCE AND DISTANCE





A terceira faixa do álbum é “Silence And Distance”.





A canção se inicia quase como uma balada, com André
Matos cantando suavemente, acompanhado apenas de um piano clássico. A música,
embora se desenvolva posteriormente em uma sonoridade mais pesada, continua com
um ritmo bem suave, com algumas pitadas de um Heavy Metal bem acelerado. Boa
canção.





As letras da faixa podem inferir um misto de
sentimentos de conquista e remorso:





And now I know


In my heart, I won't forget


The sails against the blue sky


That taught me how to live


... with no sorrow


And tomorrow we'll share


Silence and distance


'till our faults are repaired


You'll be the mistress


Who I'll never forget













CAROLINA IV





“Carolina IV” é a quarta música de Holy Land.





“Carolina IV” é a maior faixa de Holy Land, com
mais de 10 minutos. Ela é toda permeada por diversas influências do grupo, com
passagens típicas de “power metal”, Heavy Metal tradicional, arranjos clássicos
e mesmo alguns trechos com profunda inspiração de música brasileira. Inclusive,
em “Carolina IV”, há um trecho da canção “Bebê”, de Hermeto Pascoal. Considerada
por muitos uma das obras-primas compostas pelo Angra.





As letras representam o desejo de sair pelo mar,
por terras e águas desconhecidas, rumo ao não sabido:





Carolina IV took a river to the sky


Seven men on board taking part


To take their hearts around


All around, around the world!













HOLY LAND





Homônima ao álbum, “Holy Land” é a quinta canção do
trabalho.





Os primeiros minutos de “Holy Land” apresentam uma
fusão de sonoridades extremamente interessantes, arranjos de música clássica
com sons brasileiros (uma espécie de baião). Mesmo quando a faixa é tomada
pelas guitarras, o riff permanece com fortes influências desta construção
sonora, além da percussão e teclados reforçarem esta intensa mistura de mundos
musicais diversos. Tudo plenamente recheado por um excelente trabalho vocal de
André Matos. Canção extraordinária!





“Holy Land” é uma metáfora para o Brasil:





Holy Land - Holy Land around


Holy Land - Holy Land is all...


Someone has sent


Somebody here


To bring an age


Long disappeared













THE SHAMAN





A
sexta faixa de Holy Land é “The Shaman”.





“The Shaman” mantém um ritmo mais cadenciado ao
álbum, com a bateria bastante presente durante toda a canção a qual, também,
conta com os teclados muito presentes. Há referências a música indígena. Nos
vocais, Matos escolheu uma atuação forte, mas sem muitos falsetes ou agudos.
Isto constrói uma canção bem intrigante.





Claramente, a música se refere a um ‘Shaman’, um
feiticeiro indígena:





Oh boys, I've seen the old man;


Straw mask around the forehead


The blaze, a blast and the awakening
dead


(The magic seeds will spread...)













MAKE BELIEVE





A sétima faixa do álbum é “Make Believe”.





A canção é uma clássica balada, com uma sonoridade
muito bonita e bastante suave, com linhas de guitarra e os teclados formando
uma belíssima melodia. André Matos a canta de maneira muito intensa, marcante, assim fazendo um dos grandes pontos altos do trabalho.













Como está expresso no refrão abaixo, “Make Believe”
faz referências às ambiguidades da vida, pesando o presente e o futuro da ‘Holy
Land’:





Make believe


There's no sorrow in your eyes


Can't you see


We could never get back from the
start


Minutes waiting, life's been wasted


... maybe I wanna die some other
day,...another day





“Make Believe” é outro grande clássico do grupo
muito presente em seus shows, mesmo quando a banda esteve com o vocalista Edu
Falaschi. Foi lançada como single, sem obter maiores repercussões em termos de
paradas de sucesso. Entretanto, o videoclipe teve extensa exibição na MTV
Brasileira.













Z.I.T.O.





A oitava faixa de Holy Land é “Z.I.T.O.”





“Z.I.T.O.” segue a linha mais tradicional do Angra,
contando com um riff bem veloz e a bateria em altíssima velocidade. Os vocais
de André Matos soam muito bem, assim como a dupla de guitarras. Embora não
inove, é uma boa música.





As letras continuam em um clima misto entre a
alegria e perspectivas do acontecimento e certo pesar pelas consequências das
descobertas:





New world was born out of man's
dreams


Now we walk on our own


The angels cried, you've heard them
weep


But now it's time to make them sing!













DEEP BLUE





A nona canção do trabalho é “Deep Blue”.





“Deep Blue” se inicia como uma balada que apresenta
um ritmo clássico em um órgão. Há orquestrações em seu início, contando com uma
atuação soberba de Matos. O ritmo cresce em peso com a presença das guitarras, mas
segue em linhas cheias de suavidade e melodia, de maneira muito tocante. Linda
canção.





As letras são mais complexas, em um tom de espera
por um futuro diferente:





Waiting for someday when the ocean
and sky


Will cover up the land in deep blue


Renaissance is over and I wonder:


- Should I close my eyes and pray?


- Always be the same?













LULLABY FOR LUCIFER





A décima – e última – música de Holy Land é
“Lullaby For Lucifer”.





A faixa se inicia com sons de pássaros e da
natureza. Em um tom suave, acompanhado por um violão, Matos canta de maneira
mais branda. Assim a canção permanece até o final, sempre com os efeitos de
natureza ao fundo em um profundo sentido de pesar.





As letras refletem este tom pesaroso supracitado, demonstrando um sentimento de melancolia:





On the sand, by the sea


I left my heart


To shed my grief


A vulture came begging me:


- Feed me with this piece of meat!













Considerações Finais:





Holy Land permanece como um dos álbuns prediletos dos fãs do
Angra até hoje – para muitos o favorito. O trabalho foi responsável por
aumentar, e muito, o sucesso internacional do grupo.





Embora não tenha obtido maior repercussão nas
tradicionais paradas de sucesso dos Estados Unidos e Reino Unido, o álbum foi
“disco de ouro” no Japão, atingindo a 17ª posição da parada de sucessos
nipônica.





Mais que isso, o sucesso de Holy Land permitiu que
as portas da Europa se abrissem de forma mais intensa, proporcionando que a
banda excursionasse por países como Itália e França. Neste último, o Angra
aproveitou para gravar uma apresentação em Paris e lançarem o EP Holy Live, em
1997, que continha quatro faixas ao vivo.





O clipe de “Make Believe” chegou a ser indicado ao
prêmio de clipe internacional no MTV Video Music Awards de 1997.





Foi na turnê de Holy Land que a banda se apresentou
pela primeira vez no Japão. Na turnê, o tecladista do grupo foi Leck Filho.













Ainda com André Matos, Luís Mariutti e Ricardo
Confessori em sua formação, o Angra lançaria o álbum Fireworks, em 1998. Após
isto, uma série de problemas cercou o grupo que culminou com a saída dos três
integrantes e uma nova formação da banda.





Formação:


Andre Matos - Vocal, Piano, Teclados


Kiko Loureiro - Guitarra


Rafael Bittencourt - Guitarra


Luis Mariutti - Baixo


Ricardo Confessori – Bateria





Faixas:


01. Crossing (G.P. da Palestrina) - 1:56


02.
Nothing to Say (Matos/Loureiro/Confessori) - 6:22


03.
Silence and Distance (Matos) - 5:33


04. Carolina IV (Bittencourt/Matos/Loureiro/Mariutti/Confessori)
- 10:36


05.
Holy Land (Matos) - 6:26


06.
The Shaman (Matos) - 5:24


07.
Make Believe (Bittencourt/Loureiro/Matos) - 5:53


08.
Z.I.T.O. (Bittencourt/Loureiro/Matos) - 6:04


09.
Deep Blue (Matos) - 5:48


10.
Lullaby for Lucifer (Bittencourt/Loureiro) - 2:40





Letras:


Para o conteúdo das letras, recomendamos o acesso
a: http://letras.mus.br/angra/





Opinião do
Blog:


Embora o Blog evite usar rótulos musicais, desta
vez foi muito difícil falar do Angra sem mencionar o que se convencionou chamar
Power Metal (bandas que tocam com riffs de guitarra em grande velocidade).





Com o passar do tempo, surgiu uma ‘subvertente’
do Power Metal, a qual se denominou “Metal Melódico”. O termo é horrível, é
como se as outras vertentes do Heavy Metal não tivessem melodia. Mas dentro
deste rótulo péssimo, colocaram bandas como Kamelot, Sonata Arctica, Nightwish,
e, também, o Angra.





O Blogueiro deve dizer que nenhuma destas bandas
supracitadas, assim como o tal “Metal Melódico” despertam seu maior interesse. Com
exceção do Angra. Por motivos de puro preconceito musical, quem faz este blog
não valorizava o trabalho do Angra totalmente e, menos ainda, de André Matos.
Talvez, para muitas pessoas, somente o tempo e o envelhecer fazem com que elas
percam pré-conceitos idiotas (baseados em sabe-se lá o que), aprendendo a
valorizar, compreender e curtir o trabalho de artistas que antes não eram
admirados. E isto, penso, não vale somente para a música.





Falando mais especificamente do Angra, é uma banda
que, em muito, se difere do chamado Metal Melódico. Primeiro, por se tratar de
um grupo que prima pelo talento de seus músicos e, também, pela incrível
criatividade e inventividade de seus compositores.





Em Holy Land, o “Power Metal” está presente. De
maneira mais dominante em “Nothing To Say” e “Z.I.T.O.”. No restante do álbum,
o estilo está presente em passagens mais isoladas dentro das composições. E o
que ocorre?





Acontece que as passagens mais pesadas do álbum
estão recheadas de riffs de Heavy Metal Tradicional e, em algumas, flertes com
o Hard Rock. É esta versatilidade do grupo brasileiro que o coloca anos-luz à
frente das demais bandas do chamado “Melódico”.





Mais que isto, em muitas passagens do álbum há
construções musicais incrivelmente belas. Fusões de arranjos clássicos e música
“mais brasileira” feitas de maneira extremamente competente. Um ótimo exemplo
disso é a extraordinária “Carolina IV”.





Matos está cantando de maneira formidável em Holy
Land. Não há exageros, o que se houve é um vocalista competente e envolvido de
maneira que suas capacidades contribuam para o sucesso das canções.





Enfim, o Angra conseguiu boa repercussão no cenário
internacional. Com toda justiça, pois se trata de uma banda muito talentosa.
Holy Land é o álbum com a primeira formação do grupo que reflete todo este
talento. Um álbum incrível.

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