Rust in Peace é o quarto álbum de estúdio da banda norte-americana de Heavy Metal chamada Megadeth. Foi lançado em 24 de setembro de 1990 com a produção sendo realizada por Mike Clink e também pelo guitarrista e líder da banda, Dave Mustaine. O álbum foi gravado durante o ano de 1990, no Rumbo Studios, na Califórnia, nos Estados Unidos.
Em janeiro de 1988, o Megadeth lançava seu terceiro álbum de estúdio, o ótimo So Far, So Good... So What! Embora se trate de um álbum muito bem recebido por seus fãs e considerado um clássico nos dias de hoje, parte da crítica especializada da época não recebeu o trabalho de maneira positiva.
É nele que está presente um dos maiores clássicos da banda, “In My Darkest Hour”, música composta por Dave Mustaine em homenagem à memória do baixista Cliff Burton, do Metallica, morto em um terrível acidente em 1986.
Em fevereiro daquele ano, o Megadeth inicia uma grande turnê para promover o álbum, começando como banda de abertura para o lendário Ronnie James Dio na Europa e, depois, fazendo as apresentações de abertura do Iron Maiden nos Estados Unidos, com sua famosa turnê ‘7th Tour Of 7th Tour”.
Nesta altura, o baterista da banda era Chuck Behler, que apresentava problemas de saúde relacionados a abuso de drogas. Mustaine então contratou o baterista Nick Menza como técnico de bateria (roadie) de Behler, deixando-o de sobreaviso para o caso de Behler não conseguir prosseguir com os trabalhos.
Em maio de 1988, um bêbado Dave Mustaine age de maneira irresponsável, provocando uma grande selvageria em um show em Antrim, na Irlanda do Norte. Mustaine dedica a canção “Anarchy in the UK” ao IRA (Exército Republicano Irlandês), com a frase: “This one is for the cause, give Ireland back to the Irish!” Com isto, católicos e protestantes entraram em grande conflito, que foi a inspiração para que Mustaine compusesse a canção “Holy Wars... The Punishment Due”.
Em agosto de 1988, o Megadeth participa do Monsters Of Rock, festival que acontece no castelo de Donnington, juntamente com KISS, Iron Maiden, Helloween, Guns ‘N’ Roses e David Lee Roth, ex-vocalista do Van Halen, com uma audiência superior a cem mil pessoas. A banda foi convidada para participar do Monsters Of Rock European Tour, mas a banda desiste de participar logo após a primeira apresentação, devido aos problemas do baixista David Ellefson com o abuso de drogas.
Após isso, Mustaine acabou demitindo o baterista Chuck Behler e o guitarrista Jeff Young, alegando que havia muitos problemas na banda que eram potencializados enquanto o grupo estava em turnê, especialmente relacionados ao abuso de drogas. Por causa disso, o Megadeth cancelou a turnê que faria na Austrália.
Em julho de 1989, o então roadie, Nick Menza, é contratado como baterista oficial da banda. Como trio, o grupo grava o cover “No More Mr. Nice Guy”, do Alice Cooper, que acabou se tornando trilha sonora do filme Shocker, de Wes Craven, de 1989.
Depois disso, Dave Mustaine acabou preso por dirigir intoxicado e em posse de narcóticos, quando bateu em um carro estacionado em que estava um policial de folga. No tribunal, o vocalista foi condenado a frequentar uma clínica de reabilitação e ficando sóbrio pela primeira vez em dez anos.
Com sua nova sobriedade, o Megadeth passou a uma lenta busca por um novo guitarrista. Lee Altus, da banda Heathen e Eric Meyer, do Dark Angel, foram ‘testados’. Meyer já havia sido convidado quando Chris Polland foi demitido da banda, mas preferiu continuar no Dark Angel. Também era comum Slash fazer seções com Mustaine e Ellefson e aparentava que ele iria se juntar ao conjunto, mas ele permaneceu no Guns ‘N’ Roses.
Também Dimebag Darrell Abbott, da então desconhecida banda Pantera, foi ouvido e convidado para adentrar o Megadeth, mas acabou recusando por que insistia que somente faria parte do grupo se o seu irmão e baterista Vinnie Paul Abbott também fosse contratado. Mas Mustaine havia acabado de contratar Nick Menza como baterista e Dimebag continuou no Pantera.
Em 1987, Mustaine havia demitido o guitarrista Chris Poland e fez um teste com um guitarrista de, na época, 16 anos, Jeff Loomis (das bandas Sanctuary e Nevermore). Embora tenha ficado impressionado com a atuação do jovem, ele temeu contratá-lo por conta de sua pouca idade.
De volta a 1989, Loomis fica sabendo que o Megadeth mais uma vez se encontrava buscando um guitarrista. Ao assistir a um show da banda Cacophony, que contava com os guitarristas Jason Becker e Marty Friedman, Loomis conta a Friedman sobre a vaga no Megadeth. Marty havia acabado de lançar um álbum solo, Dragon’s Kiss, de 1988.
Em seu primeiro teste, Mustaine rejeitou Friedman, acredite, pois este possuía um cabelo multicolorido. Mas Friedman acabou sendo contratado em fevereiro de 1990 como guitarrista do Megadeth. A escolha se revelaria mais que acertada, pois se trata de um excelente guitarrista.
Com Mustaine na guitarra e vocal, Dave Ellefson no baixo, Nick Menza na bateria e Marty Friedman na guitarra, o Megadeth entra em estúdio em março de 1990 para iniciar a composição e gravação de Rust In Peace. Seria a primeira vez que a banda conseguiria gravar um álbum inteiro sem trocar de produtor durante o processo e, também, pela primeira vez, o grupo estava sóbrio durante todo o trabalho sem os rotineiros problemas relacionados ao consumo excessivo de drogas que atrapalharam as gravações dos álbuns anteriores.
A ideia para o nome do álbum, Rust In Peace, veio enquanto Dave Mustaine estava dirigindo e viu um adesivo no para-choque de um veículo. De um lado havia a frase: 'One nuclear bomb could ruin your whole day' e do outro: 'May all your nuclear weapons rust in peace'. No mesmo instante, Mustaine pensou que Rust In Peace seria um ótimo nome para o álbum, como declarou anos depois.
A arte da capa foi baseada em uma ideia de Dave Mustaine, sendo elaborada pelo artista Ed Repka. Ela conta com o mascote do Megadeth, Vic Rattlehead, e os cinco líderes da "five major world powers", do início dos anos noventa. Os cinco líderes, da esquerda para direita, presentes na capa, são: o ex-Primeiro Ministro Britânico John Major, ex-Primeiro Ministro Japonês Toshiki Kaifu, ex-Presidente da Alemanha Richard von Weizsäcker, ex-Secretário Geral da União Soviética Mikhail Gorbachev, e o ex-Presidente dos Estados Unidos George H. W. Bush.
Abre o álbum um dos grandes clássicos da banda, “Holy Wars... The Punishment Due”. A música é uma grande aula de composição, possuindo riffs mais que inspirados, na realidade, brilhantes. A atuação das guitarras é excepcional, contando com solos excelentes.
“Holy Wars” foi inspirada pelo conflito existente no Reino Unido pela libertação da Irlanda do Norte, relativo ao IRA e as animosidades entre católicos e protestantes. Também incentivou na concepção da canção os incidentes ocorridos no show na Irlanda do Norte em maio de 1988, que foi descrito acima e forçou a banda a continuar a turnê pelo Reino Unido em um ônibus ‘à prova de balas’.
“The Punishment Due” é inspirada no popular personagem dos quadrinhos da Marvel, o Justiceiro (The Punisher).
Foi feito um videoclipe para ‘Holy Wars’ e neste havia várias imagens de guerras ocorridas na década de oitenta, em sua maioria, capturadas de conflitos no Oriente Médio. Lançada como single, alcançou a 24ª posição da parada britânica. É presença obrigatória nos shows desde então.
“Hangar 18” é a segunda faixa do álbum. É mais um clássico absoluto do Megadeth. É outra faixa com uma verdadeira aula de inspiração na criação de riffs e solos de guitarras, contagiantes para quem é fã do estilo.
O baterista Nick Menza afirmou que a canção é baseada em teorias de conspiração de natureza ufológica. O hangar 18 seria uma base militar norte-americana que abrigaria artefatos alienígenas, assim como formas biológicas cadavéricas de seres vivos de outros planetas mantidas congeladas. Mustaine confirma a inspiração, citando que o hangar 18 se situaria na região conhecida como “the four corner state”, nos Estados Unidos, sendo mais precisamente encontrada na base-aérea Wright-Patterson Air Force Base, em Ohio.
“Hangar 18” possui um videoclipe promocional da canção inspirado nas letras da canção, apresentando alienígenas sendo torturados e, no fim, os quatro membros da banda em uma câmara de congelamento.
Lançada como single, atingiu a 26ª posição da parada britânica. Mais que isso, foi nomeada para o prêmio Grammy de 1992 na categoria “Best Metal Performance”, embora não tenha vencido.
É outra presença obrigatória nos shows. No nono álbum de estúdio da banda, The World Needs A Hero, de 2001, o grupo gravou uma sequência para a canção, “Return To Hangar”, na qual as letras se referem aos cadáveres alienígenas congelados retornando à vida.
“Take No Prisoners” é a terceira faixa do álbum, com um ótimo riff, ora bem rápido, ora mais cadenciado. A música possui ótimos solos ao seu final. Sua letra se refere a prisioneiros de guerra.
A quarta faixa de Rust In Peace é “Five Magics”, canção que se inicia de maneira mais lenta e com forte base construída pelo baixo de Ellefson, a qual rapidamente dá lugar a inspirado riff criado por Mustaine. É baseada no romance Master Of The Five Magics, de Lyndon Hardy. Ótima canção.
A quinta faixa do álbum é “Poison Was The Cure” que tem suas letras inspiradas no vício que Mustaine possuía em heroína. Também conta com uma excelente introdução que se desenvolve em um excelente riff, puro Thrash Metal de altíssimo nível. Mais uma excelente canção.
“Lucretia” é a sexta canção do álbum. Conta com mais um riff inspiradíssimo por parte de Dave Mustaine. A música segue em um ritmo mais cadenciado, porém pesado, dando espaço para excelentes solos. As letras foram inspiradas em uma brincadeira: Lucretia seria um fantasma que vive no sótão de Mustaine.
Um dos melhores riffs da história do Heavy Metal abre a sétima faixa, a extraordinária “Tornado Of Souls”. A faixa é uma aula sobre riffs de guitarras, contando com solos de pura inspiração e muita técnica. Certamente uma das melhores canções de toda a discografia da banda, exemplo de muito peso repleto de melodia.
As letras de “Tornado Of Souls” são uma reflexão sobre relacionamentos que não funcionam bem e a dificuldade muitas vezes encontrada em terminá-los. Excelente trabalho, também, na bateria de Nick Menza. Aliás, todos merecem destaque na faixa.
Um ótimo trabalho no baixo por parte de Ellefson é a marca registrada da oitava faixa, “Dawn Patrol”. Suas letras são declamadas ao invés de cantadas, tratando da destruição do meio-ambiente pelo aquecimento global e como seria a vida dos seres humanos após uma guerra nuclear.
Fecha o álbum outra faixa sensacional, “Rust In Peace... Polaris”. As letras da canção falam sobre os mísseis intercontinentais (com alcance superior a 5000 Km) e que seriam usados em uma possível guerra nuclear. Inclusive, Polaris é o nome de um desses mísseis, o UGM-27 Polaris.
Possui uma ótima introdução pela bateria de Menza e é construída baseando-se em excelentes riffs compostos por Dave Mustaine, pesados e ao mesmo tempo com muita melodia. Mais um excepcional trabalho das guitarras do Megadeth.
Seguindo o lançamento de Rust In Peace, em setembro de 1990, a banda saiu em grande turnê. Primeiramente, uniu-se às bandas Slayer, Testament e Suicidal Tendencies para a “Clash Of Titans” Tour, pela Europa.
Já em outubro de 1990, o Megadeth foi convidado para ser a banda de abertura dos gigantes do Heavy Metal, o Judas Priest, que realizava a turnê de divulgação de seu lançamento daquele mesmo ano, o fantástico Painkiller. A turnê com o Judas Priest terminaria em janeiro de 1991, com uma apresentação no festival Rock In Rio II, para cerca de 120 mil pessoas.
Com o sucesso da turnê europeia “Clash Of Titans”, uma versão norte-americana teve início em maio de 1991, com o Megadeth, Slayer, Anthrax e o Alice In Chains. Ainda em 1991 a banda lançaria seu primeiro Home Video, o Rusted Pieces, que continha seis videoclipes da banda e uma entrevista com os membros.
O álbum Rust In Peace teve ótima recepção pela crítica e pelos fãs. O álbum atingiu a 23ª posição na parada de álbuns norte-americana e a 8ª posição na parada britânica. Em 1991, o álbum foi indicado para o Grammy na categoria de melhor performance de Heavy Metal, mas não saiu vitorioso.
O álbum é quase sempre citado como um dos melhores lançamentos de Heavy Metal de todos os tempos: a eleição feita pelo site MusicRadar o colocou na sexta posição dentre os 50 melhores álbuns de Heavy Metal, enquanto o IGN o considerou o quarto álbum mais influente do estilo.
Em 2010, comemorando o vigésimo aniversário do lançamento de Rust In Peace, a banda fez uma turnê comemorativa com 22 apresentações entre 1º e 31 de março, na qual tocava o álbum inteiro na ordem e na íntegra. Outras bandas clássicas do Thrash Metal norte-americano, Exodus e Testament, acompanharam o Megadeth na tour.
Formação:
Dave Mustaine – Guitarra e Vocal
Marty Friedman – Guitarra
Dave Ellefson – Baixo, Backing Vocals
Nick Menza – Bateria, Backing Vocals
Faixas:
01. Holy Wars... The Punishment Due (Mustaine) - 6:32
02. Hangar 18 (Mustaine/Menza) - 5:11
03. Take No Prisoners (Mustaine) - 3:27
04. Five Magics (Mustaine) - 5:39
05. Poison Was the Cure (Mustaine) - 2:56
06. Lucretia (Mustaine/Ellefson) - 3:56
07. Tornado of Souls (Mustaine/Ellefson) - 5:19
08. Dawn Patrol (Ellefson) - 1:51
09. Rust in Peace... Polaris (Mustaine) - 5:44
Letras:
Opinião do Blog:
É indiscutível a importância que o Megadeth tem no cenário do Thrash/Heavy Metal mundial. A banda possui uma discografia sólida e consistente, sempre com lançamentos que apresentam canções de qualidade. O ponto baixo da carreira é o álbum Risk, de 1999, no qual a banda apostou em um novo caminho e não foi lá muito bem sucedida.
Dave Mustaine sempre se mostrou uma figura inconstante. Demitiu vários e diversos músicos talentosos da banda, brigou com vários outros (da banda e de fora dela), faz declarações polêmicas (e infelizes) em algums entrevistas, além de sua controversa conversão ao cristianismo. Por anos, parecia obcecado em realizar sua vingança prometida contra o Metallica por conta de sua demissão do grupo.
Se o Megadeth não conseguiu o sucesso comercial do Metallica, simultaneamente, Mustaine demonstrou durante todo seu trabalho com a banda ser um dos melhores compositores da história do Heavy Metal. Em especial na construção de riffs inspirados e letras que, se não se pode concordar com seu conteúdo, primam pela criatividade e busca por temas políticos e sociais de relevância. Talvez o fato de Mustaine não poder ser considerado um grande vocalista (e, de fato, não passa nem perto) atrapalhou a banda em conseguir maior repercussão comercial. Entretanto, Mustaine tem a seu favor outro trunfo: o fato inconteste de ser um excelente guitarrista.
Rust In Peace apresenta a banda com sua melhor formação. Todas as faixas do álbum são de profunda inspiração e contam com riffs magníficos. “Holy Wars”, “Hangar 18”, “Rust In Peace” são clássicos indiscutíveis, além da aula de guitarras que é “Tornado Of Souls”, uma faixa extraordinária.
Rust In Peace é mais que um álbum recomendado ou obrigatório. É uma referência para fãs de Heavy Metal, o qual apresenta uma aula de guitarras, de construção de riffs e, fundamentalmente, que o Heavy Metal pode sim ser pesado e, ao mesmo tempo, repleto de melodias. Um álbum excepcional!
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Hangar 18, ao vivo no Rock In Rio II
Rust In Peace... Polaris, ao vivo
Tornado Of Souls, ao vivo
Contato: rockalbunsclassicos@hotmail.com
Hahahah, eu que agradeço as palavras, Karen, muito obrigado!
ResponderExcluirTambém curti muito essa resenha, e aprendi um pouco também, obrigado pela dedicação e paixão colocadas nesse texto rs
ResponderExcluirEsse album é simplesmente magnífico!
Valeu, Felipe, muito obrigado pelos elogios!
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