Em
lembrança aos 30 anos do lançamento deste álbum
Kill ‘Em All é o álbum de estreia da banda
norte-americana chamada Metallica. Seu lançamento oficial ocorreu no dia 25 de
julho de 1983, sob o selo Megaforce. A produção ficou sob a responsabilidade de
Paul Curcio com as gravações acontecendo no Music America Studios, em
Rochester, Estados Unidos. As gravações se deram entre os dias 10 e 27 de maio
daquele ano.
Em lembrança aos 30 anos do lançamento deste álbum
Kill ‘Em All é o álbum de estreia da banda norte-americana chamada Metallica. Seu lançamento oficial ocorreu no dia 25 de julho de 1983, sob o selo Megaforce. A produção ficou sob a responsabilidade de Paul Curcio com as gravações acontecendo no Music America Studios, em Rochester, Estados Unidos. As gravações se deram entre os dias 10 e 27 de maio daquele ano.
Falar do Metallica é comentar sobre uma das grandes instituições do Rock & Roll dos últimos 30 anos. Vai-se tratar, brevemente, dos primórdios da banda e sobre os fatos que levaram ao surgimento de seu álbum de estreia.
Os primórdios do Metallica datam do fim de 1981, em Los Angeles, Califórnia. O baterista dinamarquês Lars Ulrich colocou um anúncio no jornal local (The Recycler) que dizia algo como: “Baterista procura outros músicos de Heavy Metal para tocar Tygers of Pan Tang, Diamond Head e Iron Maiden. Os guitarristas da banda Leather Charm responderam ao anúncio. Eram eles Hugh Tanner e James Hetfield.
A sessão não foi bem sucedida e Ulrich continuou sem uma banda. Mesmo assim ele procurou seu amigo Brian Slagel, fundador da Metal Blade Records, e propôs que gravasse uma canção para ser parte da nova compilação que Slagel lançaria em seu selo, chamada Metal Massacre.
Lars Ulrich
Slagel acabou consentindo com a proposta de Ulrich e este voltou a se comunicar com James Hetfield, para que este fosse o vocalista e guitarrista da futura banda. Isto ocorreu por volta de Outubro de 1981, cerca de 5 meses depois do primeiro encontro dos dois.
O amigo de Ulrich, Ron Quintana, estava se decidindo sobre qual nome ele utilizaria em um novo fanzine. Ele pensava em Metalmania e Metallica e, Lars, espertamente, sugeriu que ele utilizasse Metalmania no fanzine para, assim, apoderar-se do nome Metallica para sua nova banda.
Um novo anúncio no jornal The Recycler foi postado, desta vez procurando um guitarrista solo. Após Hetfield e Ulrich virem o equipamento praticamente profissional do cara que respondeu ao anúncio, ele foi efetivado como o guitarrista solo do Metallica. Seu nome: Dave Mustaine.
No início de 1982, o Metallica grava sua primeira faixa, para a compilação Metal Massacre I: era “Hit The Lights”. Hetfield cantou, tocou guitarra e o baixo, Ulrich foi o baterista e a guitarra solo foi creditada para Lloyd Grant, um guitarrista mais focado no Blues.
James Hetfield
Embora creditada erroneamente no primeiro lote da Metal Massacre I, como ‘Mettallica’, a banda fez certo barulho com sua “Hit The Lights” e, assim, conseguiu que sua primeira apresentação fosse conquistada: em 14 de março de 1982, no Radio City, em Anaheim, na Califórnia, já com o novo baixista, Ron McGovney.
Assim, a primeira formação da banda contava com James Hetfield nos vocais e guitarra-base, Lars Ulrich na bateria, Dave Mustaine na guitarra-solo e Ron McGovney no baixo.
Com esta formação, o grupo gravaria sua primeira demo, Power Metal, que contava com 4 faixas: “Hit The Lights”, “Jump In The Fire”, “The Mechanix” e “Motorbreath”. James Hetfield se referia ao som do grupo como Power Metal.
Mais tarde naquele ano, Hetfield e Ulrich foram a um show no clube noturno Whisky a Go Go, em West Hollywood. A apresentação da banda Trauma surpreendeu os dois, especialmente durante os solos de seu grande “guitarrista”. Ao fim do show, quando foram cumprimentá-lo, descobriram que o músico que usava o pedal wah-wah era um baixista. Seu nome era Cliff Burton. Ele foi convidado a se juntar ao Metallica, mas declinou do pedido.
Hetfield e Mustaine estavam insatisfeitos com o baixista Ron McGovney, pois ele em nada contribuía para a banda.
Cliff Burton acabou aceitando entrar no Metallica mais para o final de 1982, fazendo a exigência de que o grupo deixasse Los Angeles e se mudasse para El Cerrito, na região da Bay Area de San Francisco, onde o novo movimento de bandas ligadas ao Heavy Metal e a nascente nova vertente do estilo fervilhava... o Thrash Metal.
Cliff Burton
O primeiro show com Cliff Burton no Metallica foi em Março de 1983 e sua primeira gravação com o grupo foi a demo conhecida como Megaforce, do mesmo ano.
Foi o promotor de shows Johnny Z Zazula, que ouviu a demo No Life ‘til Leather (dos tempos de McGovney no baixo) quem começou a ajudar o grupo com seu desejo de gravar um álbum. Primeiro, ele tentou vários acordos com gravadoras da Costa Leste dos Estados Unidos, mas não obteve nenhuma resposta interessante.
Assim, foi o próprio Zazula que bancou os custos da produção do primeiro álbum do Metallica e assinou com o grupo com a sua própria gravadora, a Megaforce Records.
Em 11 de abril de 1983, aconteceria um fato que mudaria a história do Heavy Metal: o Metallica demitiu o guitarrista Dave Mustaine. A alegação foi de que os abusos constantes de álcool e drogas do guitarrista, aliado ao seu comportamento extremamente violento, estava prejudicando o desenvolvimento do grupo.
O guitarrista convidado para substituir Mustaine foi o da banda Exodus, Kirk Hammett. Mesmo vários anos depois, a mágoa de Mustaine para com o Metallica permaneceu. Hammett foi para a costa leste dos Estados Unidos na mesma noite. O primeiro show com Hammett foi em 16 de abril de 1983, em Dover, Nova Jérsei. A banda dividiu o palco com o Anthrax e sua formação que contava com Dan Lilker e Neil Turbin. Era a primeira vez que os grupos tocavam juntos!
Em maio de 1983 o grupo viajou para Rochester, próximo a Nova York, para gravar o seu álbum inicial que teria o excêntrico nome de Metal Up Your Ass. Tanto o selo quanto as distribuidoras se recusaram a divulgar um álbum com este nome e o Metallica foi obrigado a mudar a denominação do disco.
Ao saber disto, Cliff Burton teria dito “Matem a todos” (Kill ‘Em All, em tradução livre) e acabou rebatizando o trabalho. A arte da capa, com uma imagem de um martelo ensanguentado, dá o mote para o impacto.
HIT THE LIGHTS
A primeira faixa de Kill ‘Em All é “Hit The Lights”.
O início da canção já mostra para o ouvinte o que ele terá por todo o álbum: a fúria do Heavy Metal tocada a toda velocidade. O riff de “Hit The Lights” é de alta velocidade e é acompanhado pela inquieta bateria de Lars Ulrich e solos frenéticos. Hetfield opta por gritar as letras na mesma intensidade da música. É um grande começo para o disco.
As letras são bem simples e mostram a emoção de uma banda de rock “incendiando” seus fãs:
You know our fans are insane
We are gonna blow this place away
With volume higher
Than anything today the only way
When we start to rock
We never want to stop again
“Hit The Lights” é uma composição antiga de James Hetfield, dos tempos de sua primeira banda, o Leather Charm.
THE FOUR HORSEMEN
A segunda canção do álbum é “The Four Horsemen”.
Um riff sensacional cheio de peso, mas um pouco mais cadenciado, é a base da música e se estende por toda a sua duração. Desta vez, os vocais de Hetfield estão um tanto quanto mais contidos, embora ele continue ‘atacando’ as letras. Os solos são sensacionais, assim como a parte mais melódica no meio da faixa. A canção deixa mais claro como a NWOBHM exerceu influências na banda. Música espetacular.
Em uma interpretação mais livre, a canção remete aos textos bíblicos do Apocalipse, referindo-se aos seus 4 cavaleiros:
Time
Has taken its toll on you
The lines that crack your face
Famine
Your body it has torn through
Withered in every place
Pestilence
For what you have had to endure
And what you have put others through
Death
Deliverance for you for sure
There is nothing you can do
Há também uma interpretação de que as letras se referem ao próprio Metallica como 4 cavaleiros.
Fato é que a composição de “The Four Horsemen” é controversa. Primeiro porque se trata de uma composição de Dave Mustaine nos tempos de sua banda anterior ao Metallica, que se chamava Panic. Ao entrar no Metallica, Mustaine trouxe a canção que se denominava “The Mechanix”.
Segundo, pois, depois de Mustaine ser chutado da banda, Hetfield se debruçou sobre a mesma, modificando-a. O primeiro passo foi alterar a velocidade com que a mesma era executada, tornando-a um pouco mais cadenciada. O segundo passo foi alterar a letra da faixa: “The Mechanix” tinha conteúdo sexual, enquanto “The Four Horsemen” passou a tratar de temática apocalíptica.
O terceiro passo foi colocar um interstício mais lento e melódico durante a canção, que como pode ser ouvida em algumas demos lançadas anteriormente pelo grupo, inexistia. Dave Mustaine afirma que também esta parte foi composta por ele, inspirada no clássico do Lynyrd Skynyrd, “Sweet Home Alabama”, que ele sempre ouvia na companhia de Cliff Burton.
No álbum de estreia do Megadeth, Mustaine incluiu “The Mechanix” conforme ele mesmo havia a criado.
MOTORBREATH
A terceira faixa do trabalho é “Motorbreath”.
A canção começa e se mantém por toda a sua duração em mais alta velocidade. Uma pequena variação do riff é sentida entre os refrãos e os versos. Hetfield mantém seus vocais de maneira mais agressiva e o solo de Hammett, embora mais curto, é bastante eficiente. Outro ponto interessante do trabalho.
A letra é simples e fala de como se viver a toda velocidade:
Motorbreath
It's how I live my life
I can't take it any other way
Motorbreath
The sign of living fast
It is going to take
Your breath away
JUMP IN THE FIRE
A quarta música do disco é “Jump In The Fire”.
O riff de “Jump In The Fire” é bem criativo e original e embala a canção como um todo, sendo que a banda opta por uma levada mais cadenciada para esta faixa. Os vocais se casam perfeitamente com o ritmo da música e se demonstram perfeitos para o resultado final do trabalho. O solo de Hammett é genial!
A letra de “Jump In The Fire” se remete à visão do diabo para as pessoas que pecam e serão, inevitavelmente, dragadas para o inferno:
Down in the depths of my fiery home
The summons bell will chime
Tempting you and all the earth
To join our sinful kind
There is a job to be done and I'm the one
You people make me do it
Now it is time for your fate and I won't hesitate
To pull you down into this pit
“Jump In The Fire” é das primeiras composições do Metallica. Quando Dave Mustaine se juntou ao grupo, ele escreveu as primeiras versões das letras da faixa, optando por um conteúdo mais sexual. Novamente, quando ele foi demitido do conjunto, Hetfield alterou a letra da canção para o conteúdo mais ‘infernal’.
A verdade é que quando Hetfield foi reescrever a letra de “Jump In The Fire”, segundo Lars Ulrich, o conjunto ouvia bastante o single do Iron Maiden “Run To The Hills” e o Metallica desejava que sua nova canção soasse como o clássico dos britânicos.
“Jump In The Fire” foi lançada como single e não repercutiu nas paradas de sucesso. A capa do single é uma cópia da capa do romance “The Devils of D-Day”, de Graham Materston, a qual foi pintada por Les Edwards.
No single original de 1983, a canção era acompanhada por versões “ao vivo” de “Phantom Lord” e “Seek And Destroy” as quais, na verdade, eram versões alternadas de estúdio com o barulho do público colocado no estúdio.
(ANESTHESIA) – PULLING TEETH
A quinta faixa do trabalho é “(Anesthesia) – Pulling Teeth”.
‘Anesthesia’ é uma reprodução do solo que Cliff Burton realizava pela primeira vez em que foi visto pela dupla Lars Ulrich e James Hetfield com sua banda Trauma. Mais para o final do solo, Ulrich o acompanha com a bateria. Cliff faz uso da técnica conhecida como tapping e também do pedal com efeitos wah-wah. ‘Anesthesia’ está presente no filme de 2011 chamado Hesher.
WHIPLASH
“Whiplash” é a sexta canção do disco.
O riff em velocidade alucinante é a grande marca da sexta faixa de Kill ‘Em All em uma amostra genuína daquilo que se convencionou a chamar de Thrash Metal. “Whiplash” segue em altíssima rapidez por toda sua extensão, com vocais que acompanham perfeitamente o ritmo da música e a bateria e o baixo frenéticos dando o tom desta obra espetacular.
A letra é uma verdadeira celebração da interatividade entre banda e fã:
Late at night all systems go
You have come to see the show
We do our best You're the rest
You make it real you know
There is a feeling deep inside
That drives you fuckin' mad
A feeling of a hammerhead
You need it oh so bad
“Whiplash” foi o primeiro single para promover o álbum Kill ‘Em All, embora também não tenha repercutido entre as paradas de sucesso.
Durante os shows, James Hetfield costuma trocar a letra original que diz “We will never quit cause we are METALLICA” por “We will never quit cause YOU are METALLICA”. Quando o baixista do grupo era Jason Newted, algumas vezes este assumia os vocais na execução desta canção.
Incontáveis são as versões covers existentes para o clássico: Pantera, Destruction e até mesmo o Motörhead fizeram covers para “Whiplash”. A versão do Motörhead, inclusive, rendeu ao grupo um prêmio Grammy.
A faixa também aparece nos games Tony Hawk’s Underground 2 e Guitar Hero: Metallica.
PHANTOM LORD
A sétima música de Kill ‘Em All é “Phantom Lord”.
Nos primeiros momentos da canção o ouvinte já sabe que o peso será mantido. O riff principal é, ao mesmo tempo, genial, pesado e veloz, em mais uma aula do que é Thrash Metal. Os vocais de Hetfield também contribuem para o ritmo frenético da faixa. No refrão há uma pequena variação no ritmo do riff principal. O solo de Hammett é, novamente, arrasador.
As letras contam com um claro e sombrio tema de terror:
Hear the cry of War
Louder than before
With his sword in ha o
To control the land
Crushing metal strikes
On this frightening night
Fall onto your knees
For the Phantom Lord
O Anthrax fez uma versão bem interessante para “Phantom Lord”.
NO REMORSE
A oitava composição do álbum é “No Remorse”.
Mais uma demonstração do poder do Thrash Metal é o que se ouve nos instantes iniciais da incrível “No Remorse”. Kirk Hammett faz um solo inicial abusando do feeling. Desta vez o ritmo frenético de algumas faixas anteriores aparece, mas intercalado por certa cadência. O andamento, embora pesado, é mais lento. O Thrash Metal ultra veloz volta de maneira perfeita ao final do trabalho. Absolutamente genial!
A letra de “No Remorse” é a melhor do álbum. Hetfield leva-nos para uma reflexão, embora simples, de como a guerra é apenas um joguete de poder para quem o detém:
War without end
No remorse No repent
We don't care what it meant
Another day Another death
Another sorrow Another breath
No remorse No repent
We don't care what it meant
Another day Another death
Another sorrow Another breath
Os gigantes do estilo Death Metal, Cannibal Corpse, fizeram uma versão para esta fabulosa canção.
Para quem é mais antigo se lembrará de que os instantes finais de “No Remorse” eram a trilha sonora da vinheta (intervalo) do programa “Fúria”, especializado em Heavy Metal que era transmitido na MTV Brasil.
SEEK AND DESTROY
A nona faixa de Kill ‘Em All é um dos maiores clássicos do Metallica, “Seek And Destroy”.
Um dos grandes riffs de todos os tempos embala esta fantástica canção. O mesmo se estende por toda a sua extensão e a banda opta por diminuir um pouco a velocidade, mas sem perder nada em questões de peso e intensidade do trabalho. James Hetfield também a canta de maneira mais ‘contida’, dando o tom perfeito de um dos hinos do Heavy Metal. Simplesmente incrível! Os solos de Hammett são quase perfeitos.
As letras são simples, em um tom de fúria assassina:
Our brains are on fire with the feeling to kill
And it will not go away until our dreams are fulfilled
There is only one thing on our minds
Don't try running away 'cause you're the one we will find
“Seek And Destroy”, desde seu lançamento, foi a canção de Kill ‘Em All que permaneceu quase sempre no set list dos shows da banda através do tempo. Normalmente, nos últimos anos, tem sido usada para fechar as apresentações do conjunto.
Tanto James Hetfield quanto Lars Ulrich afirmam que a inspiração para “Seek And Destroy” veio de uma canção da banda inglesa Diamond Head (uma das confessas e principais influências do Metallica) chamada “Dead Reckoning”. Também a faixa do Saxon “Princess Of The Night” teria influenciado na construção do clássico do Metallica.
Versões covers são incontáveis. Somente para citar alguns exemplos para o leitor: Apocalyptica, Primal Fear, Pantera e Testament são alguns dos grupos que executaram a música.
METAL MILITIA
A décima – e última – faixa de Kill ‘Em All é “Metal Militia”.
Uma aula de Thrash Metal é o que se pode ouvir em “Metal Militia”. O início da canção é em ritmo e velocidade alucinantes, mostrando o poder do Heavy Metal que o Metallica compunha. Durante toda a sua extensão a música permanece em alta velocidade, com vocais bem característicos de James Hetfield. O solo de Hammett é mais uma vez matador e Lars mostra seu trabalho frenético na bateria. Outro dos melhores pontos do disco!
As letras são simples e em um tom da formação de uma Milícia do Metal.
We are as one as we all are the same
Fighting for one cause
Leather and metal are our uniforms
Protecting what we are
Joining together to take on the world
With our heavy metal
Spreading the message to everyone here
Come let yourself go
On through the mist and the madness
We are trying to get the message to you
Também era parte das vinhetas do programa Fúria da MTV Brasil, mais precisamente da sua abertura.
Considerações Finais
Comercialmente, o álbum de estreia do Metallica não pode ser considerado um sucesso de início. Calcula-se que cerca de 300 mil cópias foram vendidas em sua primeira prensagem. Com o passar dos anos e o aumento do sucesso do Metallica, Kill ‘Em All foi gradativamente aumentando a sua vendagem, chegando a ocupar a 120ª posição da parada norte-americana de álbuns.
Kirk Hammett
Em 1989, a revista Rolling Stone colocou Kill ‘Em All na 35ª posição de uma lista dos 100 melhores álbuns dos anos 80. Já a Kerrang colocou o álbum na 29ª posição de sua lista de 100 melhores discos de Heavy Metal de todos os tempos.
A qualidade incontestável do álbum, aliado ao seu pioneirismo, trouxe ao Metallica um enorme respeito e público crescente no movimento underground. Além disto, em conjunto com o álbum Show no Mercy (1983), do Slayer, marcam o aparecimento ao mundo do movimento Thrash Metal norte-americano.
Quem, até pouco tempo atrás, não ficava nada satisfeito com os resultados do álbum de estreia do Metallica era Dave Mustaine. À revista Metal Forces (que elegera Kirk Hammett o guitarrista número 1 do ano pela sua atuação em Kill ‘Em All), Dave afirmou que era engraçado Hammett ser tão celebrado tendo “roubado” os solos que ele (Mustaine) havia criado.
Mustaine prometeu criar, por vingança, uma banda mais rápida e pesada que o Metallica e acabou fundando o Megadeth. Em seu álbum de estreia, Killing Is My Business... and Business Is Good! (1985), Mustaine incluiu a faixa “The Mechanix”, como originalmente ele havia composto para mostrar como se faz ao Metallica.
Voltando ao que realmente interessa, o Metallica embarcou em uma turnê para a promoção do álbum, a Kill ‘Em All For One tour, com os ingleses do Raven. Depois o Metallica foi a banda de abertura para o Venom em sua turnê Seven Dates of Hell, na qual participou de um festival chamado Aardschok, em Zwolle, na Holanda, frente a 7 mil pessoas.
Estima-se que Kill ‘Em All tenha superado a casa de 3 milhões de cópias vendidas.
Formação:
James Hetfield – Vocal, Guitarra-Base
Lars Ulrich – Bateria
Cliff Burton – Baixo, Backing Vocals
Kirk Hammett – Guitarra-Solo
Faixas:
01. Hit the Lights (Hetfield/Ulrich) - 4:16
02. The Four Horsemen (Hetfield/Ulrich/Mustaine) - 7:13
03. Motorbreath (Hetfield) - 3:08
04. Jump in the Fire (Hetfield/Ulrich/Mustaine) - 4:41
05. (Anesthesia) - Pulling Teeth (Burton) - 4:15
06. Whiplash (Hetfield/Ulrich) - 4:10
07. Phantom Lord (Hetfield/Ulrich/Mustaine) - 5:02
08. No Remorse (Hetfield/Ulrich) - 6:26
09. Seek & Destroy (Hetfield/Ulrich) - 6:55
10. Metal Militia (Hetfield/Ulrich/Mustaine) - 5:09
Kill ‘Em All é um dos marcos – e aqui não vou entrar no mérito de quem foi o criador do estilo – do início da vertente do Heavy Metal que se convencionou chamar de Thrash Metal. Além disto, é o debut de uma das maiores bandas de todos os tempos, goste-se ou não, o Metallica.
Com a fúria juvenil de seus membros, o trabalho é uma verdadeira porrada no ouvinte. Os riffs presentes em todo o trabalho são uma aula de peso associado à velocidade, com construções brilhantes por parte da banda. A dupla de guitarristas formada por Hetfield e Hammett dá um verdadeiro show.
James Hetfield canta de maneira agressiva e pouco técnica, mas que se adéqua como poucos à sonoridade instrumental das faixas. Além disto, já neste primeiro trabalho da banda, ele demonstrava porque é um dos melhores guitarristas base de todos os tempos, além de exímio compositor.
Não entrando na celeuma de Mustaine (e ele efetivamente contribuiu com o álbum, enquanto compositor de 4 faixas), Hammett executa os solos com sua técnica costumeira. Os solos esbanjam feeling e velocidade e se casam perfeitamente com as canções.
Cliff Burton se destaca monstruosamente em seu solo ‘Anesthesia’ e contribui bastante com seu baixo nas demais músicas. Ele passaria a compor mais efusivamente nos 2 trabalhos posteriores do grupo. Já Ulrich opta por tocar seu instrumento freneticamente, no ritmo de todo o trabalho.
Fica claro que o Metallica bebeu na produtiva e farta fonte da New Wave Of British Heavy Metal, pois várias passagens do álbum remetem ao estilo britânico, à época, recentemente explodido nas paradas de sucesso. Isto fica evidente em canções como “Seek And Destroy” e “Jump In The Fire”.
Também é observado o pioneirismo e força criativa de uma das bandas fundadoras do Thrash Metal norte-americano. Por todo o álbum, a rifferama infernal (no melhor sentido) é passível de apreciação. Canções incríveis como “Whiplash”, “Motorbreath” e “Hit The Lights” são das melhores amostras da então nova vertente do Heavy Metal que surgia.
Além disto, há músicas soberbas como “Phantom Lord”, “No Remorse” e “Metal Militia”, que trazem o melhor em termos de peso e velocidade sem perder um naco de criatividade melódica.
Kill ‘Em All é um dos grandes álbuns da história do Heavy Metal, tendo influenciado incontáveis números de bandas. Marca, como dito anteriormente, o surgimento de uma das maiores bandas de todos os tempos e representa o nascedouro de uma das mais interessantes e prolíficas vertentes do Heavy Metal, o Thrash Metal norte-americano.
Enfim, um álbum obrigatório para qualquer fã do estilo. Um disco genial!
Narita é o segundo álbum de estúdio da banda
norte-americana Riot. Seu lançamento oficial ocorreu no dia 5 de outubro de
1979, pelo selo Capitol Records. Os produtores foram Steve Loeb e Billy Arnell,
com as gravações ocorrendo no Big Apple Recording Studio, em Nova York.
A banda Riot não é, atualmente, muito conhecida,
mas isto não quer dizer que não tenha feito muito boa música. Vai-se falar um
pouco do seu surgimento e para, depois, passar-se ao álbum chamado Narita.
O Riot foi formado inicialmente no ano de 1975, na
gigantesca metrópole norte-americana Nova York.
Isto aconteceu quando o guitarrista Mark Reale e o
baterista Peter Bitelli decidiram formar uma banda. Para tanto, recrutaram o
baixista Phil Feit e o vocalista Guy Speranza. Através de toda a sua carreira o
Riot sofreu com as várias e constantes mudanças na sua formação (especialmente
nos vocais).
A formação acima citada foi a que gravou uma demo
com 4 faixas a qual eles esperavam que fizesse parte de uma compilação (que
eles mesmo propunham) a qual conteria novas bandas de Rock. Enquanto o projeto
não saía do papel, eles incluíram o tecladista Steve Costello.
Mark Reale distribuiu várias demos para os
produtores nova-iorquinos Billy Arnell e Steve Loeb, os quais eram
proprietários dos estúdios Greene Street Recording Studios e também do selo
independente Fire-Sign Records.
Mark Reale:
Os produtores supracitados rejeitaram a proposta da
compilação com novas bandas de rock, mas acabaram assinando um contrato com o
Riot.
O grupo então adicionou um segundo guitarrista,
Louie Kouvaris, e substituiu o baixista Phil Feit por Jimmy Iommi.
Com Speranza nos vocais, Reale e Kouvaris nas
guitarras, Iommi no baixo, Costello nos Teclados e Bitelli na bateria; o Riot
grava seu álbum de estreia, Rock City, em novembro de 1977.
Rock City é um ótimo álbum, com apenas composições
próprias. Ele apresenta um Heavy Metal bem clássico, mesclado com um Hard Rock
que bebe nas fontes do incrível Deep Purple.
O disco conta com excelentes canções como “Desperation”, “Warrior”,
“Heart Of Fire” e a faixa-título, “Rock City”.
Já no primeiro álbum, há a aparição, na arte da
capa, da bizarra mascote do grupo.
Embora o álbum seja muito bom e tenha garantido
apresentações do Riot com bandas como Molly Hatchet e o gigante AC/DC, o
conjunto estava à beira da falência no início de 1979.
Guy Speranza:
Mas a sorte, finalmente, bateu à porta do Riot.
Naquele mesmo ano, 1979, nas terras britânicas surgia um novo movimento que
favoreceria bandas com som na linha do Riot: a New Wave Of British Heavy Metal.
Assim que a NWOBHM rompeu o mainstream, um dos seus
principais incentivadores, o DJ Neal Kay (que havia ouvido e gostado de Rock
City) começou a divulgar o nome dos norte-americanos do Riot no Reino Unido.
Assim, muitos fãs britânicos começaram a importar
cópias de Rock City, aumentando a vendagem do grupo. Assim, Arnell e Loeb, os
donos da Fire-Sign Records, os quais haviam gravado e produzido Rock City,
sentiram-se encorajados a produzir um novo disco do Riot.
Durante as sessões de gravação deste novo álbum, o
guitarrista Louie Kouvaris deixou o conjunto, sendo substituído pelo roadie
Rick Ventura.
A arte da capa consta com a bizarra mascote do
Riot. Narita seria lançado em outubro de 1979.
WAITING FOR THE TAKING
Abre
o trabalho a faixa “Waiting For The Taking”.
A canção começa com uma ótima levada que lembra
certa inspiração no Hard setentista, especialmente os britânicos do Deep
Purple. A música tem uma melodia bem agradável, aposta em um tom mais leve e melódico.
Os vocais de Speranza são bons e as guitarras estão bem marcantes. Ótimos solos
em uma faixa contagiante.
As letras são boas, demonstram um misto de
resignação com o sentimento de lutar-se contra a mesma:
So you think you been workin' hard,
Givin' it all that you can,
And nothin' seems to make it better,
You're gonna scratch it for a whole
new plan
Street life, it ain't right,
When you feel you've grown apart
You've gotta scratch and bite,
And punch and
fight
49ER
A segunda canção de Narita é “49er”.
Um riff mais pesado e cadenciado faz parte da
introdução da música e este segue ditando o ritmo da faixa. Assim, o ótimo Guy
Speranza opta por cantar de forma mais lenta, na mesma intensidade do riff,
fazendo um efeito dinâmico e atraente. “49er” é um dos pontos mais elevados do
trabalho.
A letra fala dos 49ers, a forma com que os
desbravadores do oeste norte-americano ficaram conhecidos (e que serviu de
inspiração para o nome do time de futebol americano de São Francisco):
Headed west was a 49er,
Get rich quick, live life finer
On and on and on, the story goes
Some never made,
Their dreams to life
KICK DOWN THE WALL
A terceira faixa de Narita é “Kick Down The Wall”.
O ótimo riff da terceira canção de Narita aposta em
certa cadência que dá à música um ritmo mais lento e favorece demais a melodia.
Guy Speranza a canta contribuindo com o supracitado ritmo e presenteia a todos
com uma incrível composição. Só pra variar o solo é repleto do melhor feeling.
As letras são bem simples e contam com um clima
jovial:
The boys down at Johnny D's,
They're lookin' for love to tend
Music and language tapes,
They're getting down at the Bitter
End
Hot nights and bright lights,
Some gettin' rolled by the bar
BORN TO BE WILD
A quarta faixa do trabalho é “Born To Be Wild”.
Mostrando sua influência das bandas clássicas do
Rock, o Riot traz uma versão do clássico eternizado pelo Steppenwolf, “Born To
Be Wild”. No entanto, o Riot faz uma versão repleta de personalidade, dando um
viés bem mais agressivo e feroz ao clássico. Speranza dá um verdadeiro show nos
vocais. Ótimo cover.
NARITA
A quinta música do trabalho é “Narita”.
Com poucos mais de 4 minutos e meio, a faixa que dá
nome também ao álbum é toda instrumental. O riff principal da canção é dotado
de bastante melodia, força e boa dose de peso. A música tem certo ar bluesy,
mas com muitos toques de Heavy Metal no melhor estilo Judas Priest dos anos 70.
Faixa genial.
HERE WE COME AGAIN
A sexta faixa de Narita é “Here We Come Again”.
Nesta ótima canção, o Riot continua seu Heavy Metal
com forte influência do Hard Rock setentista. O riff é forte, pesado, mas com
intensa representação melódica. Outra vez o Judas Priest da supracitada década
é lembrado. Os vocais são bons, o solo é excelente e também merece destaque a
seção rítmica composta por baixo e bateria.
As letras são sobre batalhas:
Here we come again,
Ready to lose control
The battle has just begun,
The planes are ready to roll
Fires blazing,
All hell's breaking loose
DO IT UP
A sétima faixa do disco é “Do It Up”.
A canção já começa com um ótimo riff, bem rápido e
com as doses certas de peso e de melodia. Guy Speranza opta por fazer um vocal
um tanto quanto mais agressivo e rasgado, mas sem perder sua potência. Os solos
são pontos altos desta incrível música, pois são repletos de feeling. Ponto
altíssimo do trabalho!
As letras têm forte conotação de encontro sensual:
We're gonna do it up
We're gonna turn it on
We're gonna do it up
Oooh, gonna pour it on
HOT FOR LOVE
A oitava canção do trabalho é “Hot For Love”.
Nesta música, o Riot optou por fazer uma introdução
pequena, mas de forma mais melódica e quase acústica. A faixa tem um ótimo
riff, com uma pegada bem NWOBHM, seguindo de maneira pesada, mas não tão veloz,
sendo que no refrão, a banda intensifica o peso da canção, o mesmo ocorrendo
nos minutos finais. O resultado final é excelente.
Novamente, as letras têm claro conteúdo sexual:
She's hot for love,
She's ready to roll it over
She's hot for love,
Got no time to think it over
She's hot for
WHITE ROCK
A nona música de Narita é “White Rock”.
“White Rock” é a menor faixa de Narita. Segue em um
ritmo mais forte desde o seu início, em um tom de Heavy Metal Tradicional
clássico. Os vocais são cantados de maneira precisa para o tom da música e os
solos, embora simples, casam-se perfeitamente com a canção.
As letras são bem simples e com clima de
celebração:
White rock, makin' me so hot
I like the fever from white rock
White rock, come on make it hot
White fury, white rock
Up all night, sleep all day,
Comes the action, when we start to
play
ROAD RACIN’
A décima – e última – faixa de Narita é “Road Racin’”.
Um riff sensacional abre a última canção do
trabalho e logo ele aumenta de velocidade, acompanhado por uma ótima atuação da
bateria de Peter Bitelli, que auxilia na manutenção da rapidez da música. As
guitarras atuando em conjunto também contribuem para a intensidade da faixa. Os
solos são sensacionais. Excelente!
A velocidade da canção é refletida nas letras que
falam de viagens e máquinas em alta rapidez:
Road racin',
Feel the earth move under my wheels
There's no erasin'
The chills you get from the turns
and squeals
Considerações Finais
Sem nunca ter sido um grande sucesso comercial,
Narita acabou aumentando o sucesso do Riot nos Estados Unidos e Europa e evitou
que a banda entrasse em falência. Boa parte deste mérito se deveu a turnê bem
sucedida pelo Texas que o grupo fez em suporte a Sammy Hagar e sua carreira
solo.
Esta turnê bem sucedida com Sammy Hagar fez com que
a Capitol Records fizesse uma proposta de lançamento mundial para Narita, desde
que o grupo aceitasse fazer uma nova turnê com Sammy pela Europa.
Tanto a Capitol quanto Sammy Hagar gostariam de ter
uma banda jovem e pesada associada a eles e o Riot cumpria todos estes
requisitos.
A turnê do Riot pelo Reino Unido com Hagar
foi um sucesso, mas assim que a mesma terminou, a Capitol Records descartou o
Riot. Mas, mesmo assim, os managers da banda Billy Arnell e Steve Loeb gastaram
seus últimos recursos para promoverem Narita na maior quantidade de Rádios
possível, e assim permitiram uma maior repercussão para o trabalho.
A tática funcionou, pois permitiu que a Capitol
Records optasse por lançar o próximo álbum do Riot, Fire Down Under, o qual foi
seu maior sucesso comercial.
Narita era o nome de um grupo que o guitarrista
Mark Reale se apresentava em San Antonio, no Texas, juntamente com o vocalista
Steve Cooper (SA Slayer), o baixista Don Van Stavern (que integraria o Riot no
futuro) e o baterista Dave McClain.
O maior sucesso comercial do álbum Narita foi mesmo
no Japão.
Formação:
Guy Speranza - Vocal
Mark Reale - Guitarra
Rick Ventura - Guitarra
Jimmy Iommi - Baixo
Peter Bitelli – Bateria
Faixas:
01.
Waiting for the Taking (Speranza/Reale/Ventura) - 5:01
O Riot não é das bandas mais conhecidas do público
em geral e nunca foi, comercialmente falando, um grande sucesso. Mas o fato é
que o grupo contribuiu de maneira importante para a música.
No início de sua carreira, o grupo esteve voltado
para o Heavy Metal tradicional e com o passar dos anos e as infindáveis
mudanças de formação, começou a flertar mais com a vertente do Power Metal,
mais precisamente do meio para o final da década de 80.
Narita foi um álbum de qualidade inquestionável.
Lançado em 1979, o disco já trazia uma prévia de todo o turbilhão musical que
iria surgir na próxima década, especialmente no Reino Unido e sua New Wave Of
British Heavy Metal.
Em várias passagens das canções do trabalho é
impossível não vir à mente sons identificados com bandas como Deep Purple e Judas
Priest. Narita apresenta sua sonoridade muitas vezes pesada, cadenciada, mas
que apostava em melodias marcantes e de grande impacto.
Canções incríveis como “Waiting For The Taking”, “49er”,
“Here We Come Again” e “Road Racin’” demonstram melhores momentos do que o
Heavy Metal pode ser: pesado, intenso, mas repleto de ritmo e melodia.
Narita não foi um grande sucesso comercial, mas já
apresentava elementos que seriam muito usados no futuro. É uma obra de
qualidade indiscutível e que merece ser apreciado por todos os fãs de música
pesada. Álbum obrigatório.
Em tempo: infelizmente o grande líder do grupo,
Mark Reale, faleceu em janeiro de 2012 e, a pedido de seu pai, o nome do grupo não
será mais usado pelos membros do formação remanescente.