SANTANA - SANTANA (1969)







Santana
é o álbum de estreia da banda norte-americana de mesmo nome, ou
seja, Santana. Seu lançamento oficial aconteceu em agosto de 1969,
através do selo Columbia Records. As gravações ocorreram em maio
daquele mesmo ano, no estúdio Pacific Recording, em San Mateo, na
Califórnia, nos Estados Unidos. A produção ficou por conta de
Brent Dangerfield e da própria banda.






Ano
novo e o RAC já começa com uma estreia de
peso: o Santana, grupo liderado pelo lendário guitarrista
mexicano Carlos Santana. Como nossa tradição, vai-se abordar as
origens do grupo antes de se focar no álbum propriamente dito.










Carlos
Santana





Em
20 de julho de 1947, nascia Carlos Santana, na cidade de Autlán de
Navarro, em Jalisco, no Mexico.





Carlos
aprendeu a tocar violão aos cinco e guitarra aos oito anos de idade,
sob a tutela de seu pai, um músico mariachi. Seu irmão mais novo,
Jorge Santana, também se tornaria um guitarrista profissional.





O
jovem Carlos foi fortemente influenciado por Ritchie Valens,
no momento em que havia poucos mexicanos no rock americano e na
música pop. (Nota do Blog: Richard Steven Valenzuela, conhecido como
Ritchie Valens, era um cantor, compositor e guitarrista americano. Um
pioneiro do rock and roll e um antepassado do movimento Chicano
Rock
, a carreira de gravação de Valens durou apenas oito meses,
terminando abruptamente quando ele morreu em um acidente de avião,
aos 17 anos, em 1959).





A
família se mudou de Autlán de Navarro para Tijuana, a cidade na
fronteira do México com a Califórnia, e depois para São Francisco,
esta, nos Estados Unidos.





Carlos
ficou em Tijuana, mas depois se juntou a sua família em São
Francisco. Durante seus primeiros anos, de 10 a 12 anos, ele foi
sexualmente molestado por um homem americano que o trouxe através da
fronteira.





Carlos
morou no Mission District e eventualmente se formou na Escola Média
James Lick, e, em 1965, na Mission High School. Carlos foi aceito na
Universidade Estadual da Califórnia, na Northridge e na Humboldt
State University, mas optou por não frequentar a faculdade. (Nota
do Blog:
The Mission District, ou simplesmente ‘The Mission’,
é um dos bairros mais antigos de São Francisco).





Início
da carreira de Carlos





Santana
foi influenciado por artistas populares da década de 1950, como B.B.
King
, T-Bone Walker e John Lee Hooker.





Pouco
depois que começou a tocar violão, ele se juntou a bandas locais ao
longo da ‘Tijuana Strip’, onde pode começar a adicionar seu
próprio toque exclusivo ao Rock ‘n’ Roll dos anos 50.





Carlos
também foi apresentado a uma variedade de novas influências
musicais, incluindo o jazz e a música folk, além de
testemunhar presencialmente o crescente movimento hippie, este,
especialmente centrado em San Francisco na década de 1960.





Depois
de passar vários anos trabalhando como lavador de louça em um
restaurante e buscando mudanças extras, Santana decidiu se tornar um
músico em tempo integral.







Carlos Santana





Em
1966, Carlos ganhou destaque devido a uma série de eventos
acidentais, todos acontecendo no mesmo dia. Santana era um espectador
frequente no
Fillmore West, de Bill Graham. Durante um show
matinee de domingo, Paul Butterfield estava programado para se
apresentar lá, mas não conseguiu fazê-lo como resultado de estar
bêbado. (
Nota do Blog: Fillmore West foi um histórico teatro
de música rock and roll em San Francisco, Califórnia, que se tornou
famoso sob a direção do promotor de shows Bill Graham, entre 1968 e
1971).





Assim,
Graham reuniu um conjunto improvisado de músicos que ele conheceu
principalmente através de suas conexões com a banda de Butterfield,
com o Grateful Dead e o Jefferson Airplane, mas ele
ainda não havia conseguido todos os guitarristas.





O
empresário de Santana, Stan Marcum, sugeriu imediatamente a Graham
que Carlos se juntasse à banda improvisada e ele concordou. Durante
a jam session, a guitarra de Santana e sua forma de fazer os
solos ganharam a noção tanto da audiência quanto de Graham.





Formação
da banda Santana





Durante
o mesmo ano, Santana formou a Santana Blues Band, com outros
músicos de rua, incluindo David Brown (baixo), Marcus Malone
(percussão) e Gregg Rolie (vocalista, Hammond Organ B3).





A
primeira formação mais fixa da banda contava com Carlos Santana
(guitarra), Marcus Malone (percussão), Rod Harper (bateria), Gus
Rodriguez (baixo) e Gregg Rolie (vocal principal, Hammond organ B3).





A
primeira audição do grupo com esta formação foi no Avalon
Ballroom, no final do verão (nos EUA) de 1967. Após a audição,
Chet Helms (o promotor do evento), em concerto com o Family Dog,
disse à banda que nunca conquistariam sucesso na cena musical de San
Francisco com a fusão latina e sugeriu que Carlos mantivesse seu
trabalho lavando pratos no Drive-In do Tique Tock, na 3rd Street.





No
momento em que o Santana começou a trabalhar em seu álbum de
estreia, Santana, Malone já havia deixado a banda, pois havia
sido condenado por homicídio culposo e começado a cumprir sua
sentença na prisão estadual de San Quentin, no Condado de Marin.





Antes
de Woodstock, Bill Graham foi convidado a ajudar na logística e no
planejamento. Bill concordou em prestar sua ajuda apenas se uma nova
banda que ele estava promovendo, desconhecida, chamada Santana,
fosse adicionada ao festival.







Gregg Rolie





Dias
depois, o
Santana foi anunciado como um dos artistas no
Woodstock Festival.





O
álbum Santana





Mais
de metade do álbum é composto de música instrumental, gravada pelo
que era originalmente uma banda de improvisação, de forma puramente
livre.





Por
sugestão do empresário Bill Graham, a banda escreveu músicas mais
convencionais, com a finalidade de causar maior impacto, mas
conseguindo reter a essência do improviso na música.





O
álbum foi destinado para ser um grande lançamento, dando um reforço
à performance seminal da banda no Festival Woodstock,
no início de agosto. O disco foi mixado e lançado nos formatos
estéreo e quadrafônico.





A
imagem icônica da capa do disco foi obra do artista Lee Conklin.





Vamos
às faixas:





WAITING





Logo de cara, em "Waiting", o ouvinte é jogado em uma experiência a qual contempla a musicalidade latina. O trabalho de percussão dos músicos Michael Carabello e José 'Chepito' Areas é evidente em toda a canção. Mas há espaço para os teclados de Gregg Rolie e, claro, para o talento de Carlos Santana na guitarra.













EVIL
WAYS





Já em "Evil Ways", o grupo continua sua abordagem musical latina, criando uma exótica interpretação para a faixa. A percussão continua seu belo trabalho, enquanto os vocais eficientes de Rollie contribuem para o sucesso da música, mas é no teclado sua decisiva participação. 





A
letra fala sobre mudança:





When
I come home, baby

My house is dark and my pots are cold

You're
hanging around, baby

With Jean and Joan and a who knows who

I'm
getting tired of waiting and fooling around

I'll find somebody,
who won't make me feel like a clown

This can't go on

Lord
knows you got to change













“Evil
Ways” é uma versão da canção originalmente composta por
Clarence ‘Sonny’ Henry e originalmente gravada pelo
percussionista de jazz Willie Bobo em seu álbum de 1967, Bobo
Motion
.





Além
do lançamento do Santana, em 1969, “Evil Ways” também
foi gravada pela banda The Village Callers.





Lançada
como single, atingiu a 9ª colocação na principal parada
norte-americana desta natureza.





Outras
versões famosas para a canção foram feitas por Jackie Mittoo,
Johnny Mathis e Type O Negative.













SHADES
OF TIME





"Shades of Time" possui uma melodia bastante maliciosa e, ao mesmo tempo, envolvente. A guitarra de Santana aparece mais efusivamente, com uma abordagem indomável e saborosa. É, sem dúvidas, o grande destaque desta composição.





A
letra é divertida:





I'll
try to help if I can


So
don't hide your head in the sand, oh no


Why
are you feeling so low


You're
wondering where will you go













SAVOR





Há um inegável espectro de improvisação e excentricidade em "Savor", mas com uma competência técnica invejável. A parceria entre o teclado de Rollie e a guitarra de Santana é ótima, amparados pelo baixo de Brown e uma impecável presença dos percussionistas.













JINGO





"Jingo" mantém a pegada do disco, com a inafastável latinidade característica do grupo. A guitarra de Santana está ainda mais pesada e é o grande destaque desta canção, com solos que exploram a técnica e o feeling de Carlos.













Lançada
como single, atingiu a 56ª posição da principal parada
norte-americana desta natureza.





Trata-se
de um cover para a música “Jin-go-lo-ba”, originalmente composta
pelo instrumentista nigeriano Babatunde Olatunji e lançada
pela primeira vez em seu álbum Drums of Passion, em 1959.













PERSUASION





"Persuasion" possui uma estrutura que remete ao Blues Rock, mas sem perder a pegada latina do conjunto. Carlos Santana novamente domina a composição com uma guitarra bem pesada e ótimos solos.





A
letra é sobre uma garota:





You
got persuasion


I
can't help myself


You
got persuasion


I
can't help myself


Something
about you baby


Keeps
me from goin' to somebody else













TREAT





"Treat" é daqueles momentos excepcionais os quais a música pode propiciar. Com Gregg Rollie e Carlos Santana brilhando intensamente em seus instrumentos, a faixa conta com uma formidável base do baixista David Brown. Jazz com influência latina, sensacional!













YOU
JUST DON’T CARE





"You Just Don't Care" bebe fartamente nas fontes do Blues e do Rock, permitindo uma atuação 'furiosa' da guitarra de Carlos Santana, esbanjando feeling e agressividade. Também há um notável trabalho do baterista Michael Shrieve em outro momento notável do álbum. 





A
letra mostra uma relação conturbada:





I
told you


You'd
have to leave


And
you listened with a cryin stare.


Now
you've got the nerve


To
tell me baby


Yeah,
Yeah, a no, no


You
don't care


You
just don't care baby.


Sun


Turns
back at the sight of you


And
your evil only clouds the air













SOUL
SACRIFICE





A nona - e última - faixa de Santana é "Soul Sacrifice". O álbum Santana se encerra com uma monumental composição apenas instrumental e que se tornou um verdadeiro clássico da carreira do guitarrista. A canção é uma verdadeira 'Jam Session', a qual transborda inspiração e química entre seus músicos. Fecha o disco com chave-de-ouro!





“Soul
Sacrifice” foi lançada como single, já em 1970, mas não
repercutiu em termos de paradas de sucesso desta natureza.





Identificada
como um dos destaques do festival e do documentário sobre o festival
de Woodstock, em 1969, “Soul Sacrifice” apresenta extensas
passagens da guitarra de Carlos Santana e uma seção de percussão,
com um solo do baterista Michael Shrieve.





Está
incluída em vários álbuns ao vivo e compilação. “Soul
Sacrifice” foi uma das primeiras composições do Santana.
Carlos Santana lembrou que o grupo a escreveu quando o baixista David
Brown se juntou a eles.





Antes
do lançamento em seu álbum de estreia, Santana, então uma
banda praticamente desconhecida, tocou “Soul Sacrifice” como seu
número de encerramento em Woodstock.





“Eles
foram o único grupo a tocar sem um disco, era incomparável. O
Santana passou de Woodstock para estar sob demanda global
quase da noite para o dia”, afirma o livro Voices of Latin Rock:
People and Events that Created this Sound
.





Em
várias entrevistas, Santana lembrou-se de experimentar os efeitos de
drogas psicodélicas durante o show, mas conseguiu se manter até o
final. “No momento em que chegamos a “Soul Sacrifice”, eu
voltei de uma jornada bastante intensa. Em última análise, eu
sentia que nós entramos em muitos corações em Woodstock”.





O
álbum da trilha sonora de Woodstock chegou ao número
um na parada de álbuns da Billboard. Vários artistas
registraram covers da faixa, incluindo Mother Earth, Os
Paralamas do Sucesso
e Transatlantic.





A
música também está no filme de David Fincher, Zodiac.













Considerações
Finais





Catapultado
pela atuação explosiva no festival de Woostock,
Santana foi um álbum que fez grande sucesso comercial.





O
disco atingiu a excepcional 4ª posição da principal parada
norte-americana de discos, conquistando a 26ª colocação na sua
correspondente britânica. Ainda ficou com os 5º lugares nas paradas
de França e Nova Zelândia e com o 14º na parada australiana,
respectivamente.





Em
uma revisão contemporânea para a revista norte-americana Rolling
Stone
, Langdon Winner criticou Santana como “uma
obra-prima de técnicas ocas” e “um prazer bizarro de velocidade
- música rápida, pungente e frenética sem conteúdo real”. Ele
comparou o efeito da música com o da metedrina, que “dá um alto
sem significado”, afirmando que Rolie e Santana tocam repetidamente
e sem imaginação, em meio a uma monotonia de ritmos incompetentes e
letras inconsequentes.





O
crítico do jornal norte-americano The Village Voice, Robert
Christgau, compartilhou o sentimento de Winner, em suma, “muito
barulho”.





Em
uma revisão retrospectiva, a própria revista Rolling Stone
foi mais entusiasmada, chamando o álbum Santana de
“emocionante... com ambição, alma e convicção absoluta - cada
momento tocado diretamente do coração”.





Em
2003, a mesma revista classificou
Santana na 150ª posição
de sua lista
the 500 greatest albums of all time. Colin Larkin
o considerou um excelente exemplo de rock latino em sua
Encyclopedia
of Popular Music
, de 2011.





Rovi
Staff, do site AllMusic, em retrospectiva, dá ao álbum
uma nota 4,5 de um máximo de 5 possível, afirmando: “No seu álbum
de estreia, estrondoso e inovador, o grupo mistura percussão latina
com rotas de rock. O exclusivo estilo da guitarra de Santana,
alternadamente picante e líquido, junto aos múltiplos
percussionistas com o foco sônico”.





Após
o lançamento do álbum, o grupo saiu em turnê para promoção do LP
ao mesmo tempo em que começou a trabalhar no segundo disco, Abraxas,
que sairia em 1970.





Santana
supera a casa de 2 milhões de cópias vendidas apenas nos Estados
Unidos.













Formação:


Gregg
Rolie - Vocal, Hammond, Piano


Carlos
Santana - Guitarra, Backing Vocal


David
Brown - Baixo


Michael
Shrieve - Bateria


Michael
Carabello - Congas, Percussão


José
"Chepito" Areas - Timbales, Congas, Percussão





Faixas:


01.
Waiting (Santana) - 4:03


02.
Evil Ways (Henry) - 3:54


03.
Shades of Time (Santana/Rolie) - 3:14


04.
Savor (Santana) - 2:47


05.
Jingo (Olatunji) - 4:21


06.
Persuasion (Santana) - 2:33


07.
Treat (Santana) - 4:43


08.
You Just Don't Care (Santana) - 4:34


09.
Soul Sacrifice (Santana/Rolie/Brown/Malone) - 6:37





Letras:


Para
o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://www.letras.mus.br/santana/




Opinião
do Blog:



O RAC já começa 2018 com uma estreia marcante em nossas páginas: a banda Santana, a qual deu vazão a um dos mais criativos guitarristas da música contemporânea, o ótimo Carlos Santana.





Santana fez grande sucesso comercial e de crítica, especialmente na virada dos anos 2000, quando sua música teve um inegável apelo Pop, contando com participações de diversas e diferentes estrelas em seus discos. Mas o site prefere o momento inicial de sua trajetória, com a banda a qual carregava seu nome.





Cercado por músicos altamente competentes, como o ótimo tecladista Gregg Rolie, o qual faria parte do Journey posteriormente, Carlos Santana construiu uma banda criativa, inventiva e extremamente talentosa.





Em seu álbum de estreia, o grupo carrega sua principal característica dos tempos em que havia começado no anonimato: um inegável caráter de improvisação, ou seja, em várias de suas canções, Santana apresenta um doce sabor de 'jam', de experimentação.





Outra formidável característica do disco é que, mesmo o guitarrista Carlos Santana sendo o maior destaque individual do conjunto, este não é um álbum de guitarra. Longe disso: os momentos em que Carlos se sobressai são orgânicos com a musicalidade, ou, em outras palavras, contribuem para que a música se torne algo maior e não mera amostra de virtuosismo.





Mais um aspecto elogiável da obra é seu caráter exótico, impressivo e incontestavelmente personalístico: a influência da musicalidade latina. Esta permanece presente em todas as faixas, mas é simbioticamente fundida com outras sonoridades, como o Blues e o Jazz, tudo, com uma inegável amálgama Rock.





"Savor" carrega este aspecto de improviso, mas com inegáveis intensidade e liberdade. "Shades of Time" conta com a guitarra de Carlos mais agressiva enquanto "You Just Don't Care" é um Blues Rock magnífico.





Mas as preferidas do RAC são duas composições instrumentais: "Treat" faz uma fusão incrível de Jazz e musicalidade latina enquanto a "Soul Sacrifice" faltam palavras para descrever o quanto é uma Jam Session extraordinária.





Enfim, Santana é um álbum único, inovador e cheio de identidade própria. Apresenta ao mundo uma banda incrível, Santana, um verdadeiro diamante em estado bruto, mas que já apresentava muitos sinais de seu brilhantismo. Este diamante seria lapidado nos geniais trabalhos posteriores, mas, mesmo assim, Santana permanece como um disco obrigatório e essencial.


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