FLOWER TRAVELLIN' BAND - SATORI (1971)







Satori
é o segundo álbum de estúdio da banda japonesa chamada Flower
Travellin’ Band. Seu lançamento oficial aconteceu em 5 de abril de
1971, com as gravações ocorrendo durante o ano anterior, 1970. A
produção ficou sob responsabilidade de Yuya Uchida e Ikuzo Orita e
os selos responsáveis foram o Atlantic Records e o GRT Records.






Não
tão conhecida do público em geral, a Flower Travellin’ Band
faz sua estreia aqui no RAC, com seu álbum mais
emblemático. Brevemente, o Blog vai tratar sobre as origens do grupo
para depois se abordar o disco, conforme a tradição.













Origens





A
história da Flower Travellin’ Band está intrinsecamente
ligada à figura de Yuya Uchida, um japonês que é cantor, produtor
e ator.





Uchida
abandonou o ensino médio aos 17 anos e começou sua carreira musical
no ano de 1957. Ele se tornou amigo de John Lennon depois que
se apresentou como ato de abertura para os Beatles, em sua
turnê de 1966, no Japão.





Chocado
após assistir a Jimi Hendrix e ao Cream tocarem em
Londres, em 1967, Uchida voltou para seu país e quis apresentar um
som semelhante ao Japão. Ele formou a Yuya Uchida & The
Flowers
, a qual lançou o álbum Challenge!, em 1969, que
é composto quase inteiramente de covers de canções de rock
psicodélico ocidental.





Challenge!
apresentava versões para músicas de Jimi Hendrix, Cream,
Jefferson Airplane e Big Brother and The
Holding Company
, além de uma música original. A capa causou uma
reviravolta nos meios de comunicação japoneses, pois mostrava cada
membro do grupo posando nu.





Em
1969, após o lançamento do álbum; a vocalista Remi Aso e o
guitarrista Katsuhiko Kobayashi se mudaram para os Estados Unidos.
Yuya dispensou todos os membros restantes, exceto o baterista George
Wada, recrutando o guitarrista Hideki Ishima, o vocalista Joe
Yamanaka e o baixista Jun Kobayashi.





A
Flower Travellin’ Band





Deste
modo, a Flower Travellin 'Band foi formada a partir de sua
‘mãe’, ou seja, a Yuya Uchida & The Flowers.





O
grupo consistia do vocalista Joe Yamanaka, oriundo do grupo 4.9.1;
do guitarrista Hideki Ishima, vindo do The Beavers;
o baixista Jun
Kobayashi, do conjunto TaxMan e o baterista George Wada
remanescente da The Flowers.





No
início, Yuya Uchida cantava os Backing Vocals, pandeiro e era MC;
como membro convidado. Depois ele se dedicou a ser o produtor da
banda. O Flower Travellin 'Band foi criado como uma banda que
atrairia o público internacional.





A
banda tocou no HEAD ROCK OF THE THIRD WORLD (evento de
rock realizado no Auditório Kyoritsu Koudo, em Tóquio), também
estrelado por Zuno Keisatsu, The Mops, The Golden
Cups
e muitos outros projetos. Este concerto foi a estreia
oficial da banda como The Flower Travellin' Band.





O
primeiro lançamento oficial do grupo foi como banda de apoio para o
trompetista japonês de Jazz, Terumasa Hino, em seu single chamado
“Clash/Doop”.





A
Flower Travellin’ Band tocou no Minimal Sound Of Rider,
durante a Exposição Mundial de Osaka. Foi neste evento que o conjunto fez amizade com o grupo canadense Lighthouse, o qual estava no
Japão se apresentando no ‘Pavilhão do Canadá’, por conta da
Exposição de Osaka.





Foi
esta amizade com a Lighthouse que gerou a expedição da
Flower Travellin’ Band para o Canadá.







Joe Yamanaka





Em
outubro de 1970, a
Flower Travellin’ Band decidiu se mudar
para o Canadá. O grupo tocou no Concerto de Farewell, no Sankei
Hall, em Otemachi, Tóquio. No dia 21 daquele mesmo mês, o conjunto
lançou seu primeiro álbum de estúdio,
Anywhere.





Anywhere





Como
foi dito, em 21 de outubro de 1970, foi lançado o primeiro álbum da
Flower Travellin’ Band, Anywhere.





O
disco consistia, basicamente, nas versões para 4 músicas:
“Louisiana Blues”, de Muddy Waters; “Black Sabbath”,
do Black Sabbath; “House of the Rising Sun”, do Animals;
e “21st Century Schizoid Man”, do King Crimson.





Além
disto, a autoral “Anywhere” abria e fechava o álbum.





A
musicalidade do disco oscilava entre a psicodelia, o peso do Heavy Metal e a ousadia do Rock Progressivo; ressaltando o caráter de
improvisação musical presente na sonoridade do conjunto.





Viagem
para Toronto





Durante
o mês de novembro de 1970, Yuya Uchida viajou para Toronto, no
Canadá, e também foi a Nova York, onde deu entrevistas. Uchida
preparava alguma mudança do conjunto.





Em 5
de dezembro de 1970, a Flower Travellin’ Band viajava para
Toronto, onde se encontrariam com os amigos do Lighthouse,
especialmente o líder do grupo, Paul Hoffert, estabelecendo uma base
na cidade.







A Flower Travellin' Band





A
história de Satori





Como
foi dito, na Expo '70, a banda de rock canadense Lighthouse
viu a Flower Travellin' Band tocar, e, gostando do que viu, sugeriu que os japoneses fossem para o Canadá.





Percebendo
a chance de popularidade internacional, o grupo rapidamente gravou
Satori, para ter algo para levar ao Canadá consigo. (Nota
do Blog:
Satori é um termo japonês budista para iluminação. A
palavra significa literalmente ‘compreensão’. É algumas vezes
livremente tratada como sinônimo de Kensho, mas Kensho refere-se à
primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza,
algumas vezes conhecida como ‘acordar’. Diferentemente do kensho,
que não é um estado permanente de iluminação mas uma visão clara
da natureza última da existência, o satori refere-se a um estado de
iluminação mais profundo e duradouro. É costume portanto
utilizar-se a palavra satori, ao invés de kensho, quando
referindo-se aos estados de iluminação do Buda e dos Patriarcas).





Cansada
de se limitar a fazer versões, principalmente de bandas de
blues/rock ocidentais, a Flower Travellin' Band queria criar
seu próprio material. Os membros se reuniram e o guitarrista Hideki
Ishima apresentou riffs enquanto todos tentavam novas ideias.





Ishima
estava interessado em música indiana, então o aspecto oriental
tornou-se parte do som da banda.





O
vocalista Joe Yamanaka revelou que há relativamente poucas letras no
álbum por conta do amor da banda por improvisação. Ele afirmou
que, por causa de não se pode alterar a direção das músicas
repentinamente com as letras, isto é plenamente possível com a
instrumentação. Desta forma, Joe recuou conscientemente e confiou
nos outros músicos.







Hideki Ishima





O
álbum foi gravado em apenas dois dias; um dia de gravação e o
outro para a mixagem.





A
produção ficou por conta do produtor e idealizador do conjunto,
Yuya Uchida, juntamente a Ikuzo Orita. A capa possui clara inspiração
budista e é uma arte de Shinobu Ishimaru. A gravadora Atlantic
Records foi a responsável por lançar o álbum originalmente no
Japão.





Vamos
às faixas:





SATORI
PART I





A primeira canção do álbum apresenta uma atmosfera densa e sombria. A seção rítmica formada por Jun Kozuki e George Wada confere bastante peso, mas é a guitarra de Hideki Ishima que lidera a musicalidade. Os vocais de Joe Yamanaka também estão de acordo com o aspecto mais escurecido da sonoridade. Há muita influência de Black Sabbath em "Satori Part I".





A
letra é em sentido de doação:





Under
rough skies survey a day around


Charging
through doors, going nowhere and everywhere


Just
want to keep on moving and grooving


Sharing
my trip with everything, with everything










Em
conjunto com “Satori Part II”, foi lançada como single, pela
Atlantic Records, no Canadá.













SATORI
PART II





O riff principal de "Satori Part II" é incrível graças ao talento de Hideki Ishima. Ele possui uma clara influência da música asiática enquanto o peso da faixa anterior é consideravelmente abandonado, com a banda desenvolvendo um Rock com toque psicodélico, mas, como afirmado, inegável origem oriental e hindu. Brilhante!





A
letra é um grito de libertação:





There
is no up or down


Your
truth is the only master


Death
is made by the living


Pain
is only intense to you


The
sun shines every day


The
sun shines every day





“Satori
Part II” acabou se tornando um hit nas rádios de Toronto,
atingindo a 8ª posição das paradas locais.













SATORI
PART III





A instrumental "Satori Part III" possui um andamento mais arrastado em sua primeira metade e, embora o trabalho da seção rítmica seja excelente, a canção é dominada pelo guitarrista Hideki Ishima. Em uma espécie de Hard/Prog, a segunda metade da faixa ganha em intensidade e ritmo, mas mantendo o nível estratosférico da atuação de Ishima. Espetacular!













SATORI
PART IV





"Satori Part IV" apresenta mais influências da cena sessentista, sendo uma canção com uma atmosfera menos densa em seus minutos iniciais, contando com a presença de uma gaita inspirada, em um toque Bluesy 'zeppeliniano'. Os vocais de Yamanaka são ótimos e o solo de guitarra de Ishima, na parte central da música, evoca o lendário Jimi Hendrix. Outra faixa magnífica.



Obs: não encontrei fonte com as letras.













SATORI
PART V





Em "Satori Part V", o clima denso e mais sombrio retorna e os gritos angustiantes de Joe Yamanaka contribuem decisivamente para a noção de desespero. A instrumentalidade brinca com mudanças de dinâmica e andamento da faixa, em uma estrutura que remete ao Prog, mas sem perder o peso do Hard. Ishima é, novamente, brilhante!













Considerações
Finais





Embora
de uma qualidade extraordinária, Satori foi um completo
fracasso comercial. Desta forma, acabou não repercutindo em termos
das principais paradas de sucesso do mundo, a norte-americana
(Billboard) e a britânica.





A
GRT Records foi o selo responsável pelo lançamento do disco no
Canadá e nos Estados Unidos. A versão americana é diferente da
original japonesa, pois continha músicas do seu próximo álbum,
Made in Japan, e a faixa bônus “Lullaby”. Além disso,
foi produzido pelo amigo Paul Hoffert, da banda Lighthouse.





A
versão japonesa original foi reeditada em CD pela Warner Music, em
1988. Um relançamento, em 1991, continha a faixa bônus “Map”, a
qual foi composta por Kuni Kawachi, originalmente presente em seu
álbum Kirikyogen, que apresentava a participação de Joe
Yamanaka e de Hideki Ishima, sob o nome ‘Works Composed Mainly By
Humans’. Esta versão da música foi lançada, anteriormente, como
single pela Flower Travellin' Band.





O
álbum foi remasterizado digitalmente, em 1998. Em 2009, foi
remasterizado uma outra vez, agora no novo formato SHM-CD.





Embora
tenha fracassado em termos comerciais, atualmente, Satori
possui um status cult, com a crítica reconhecendo seu valor.





Em
setembro de 2007, a revista Rolling Stone Japan avaliou Satori
como o 71º colocado de sua lista dos ‘100 melhores álbuns de rock
japonês de todos os tempos’.





David
Fricke, da versão norte-americana da revista Rolling Stone,
declarou que Satori é seu ‘álbum de rock japonês favorito
de todos os tempos’.





Hernan
M. Campbell, do site Sputnikmusic, afirma que Satori,
com seus traços de Heavy Metal, Rock Progressivo e Psicodelia,
captura “o eclecticismo da cena do rock dos anos 70 e todas as
diferentes filosofias que evoluíram constantemente em gêneros
totalmente reconhecidos”.





Dando
ao álbum uma classificação de 4.8 em 5, Campbell também
sintetiza, assim como o trabalho anterior de Ishima e Yamanaka, no
álbum de Kuni Kawachi, Kirikyogen, “o som formidável e
ominoso que se tornaria a essência do doom metal”.





Thom
Jurek, do site Allmusic, deu ao álbum a nota 4,5 de 5, e fez a
escolha dele como o melhor disco da banda, chamando-o de “um
verdadeiro clássico”. Jurek o sintetiza perfeitamente, afirmando:
Satori é uma jornada para o centro de algum lugar que
parece familiar, mas que nunca antes foi visitado”.





Ainda
em 1971, a Flower Travellin' Band atuou como banda de abertura
para a ‘The Lighthouse World Tour’, do grupo canadense
Lighthouse, que começou a partir do Ontario Place, em
Toronto.





O
grupo foi amplamente bem-aceito em muitos lugares e recebeu críticas
criativas em muitos jornais locais. Durante esta turnê, a Flower
Travelin’ Band
tocou com Emerson, Lake & Palmer,
Blues Project, Chase e muitos outros conjuntos
importantes.





Enquanto
ainda estavam em Toronto, a banda gravou seu terceiro álbum de
estúdio, Made in Japan, e que seria lançado em fevereiro de
1972.













Formação:


Joe
Yamanaka - Vocal


Hideki
Ishima - Guitarra


Jun
Kozuki - Baixo


George
Wada - Bateria





Faixas:


01.
Satori Part I (Yamanaka/Ishima/Kozuki/Wada) - 5:25


02.
Satori Part II (Yamanaka/Ishima/Kozuki/Wada) - 7:06


03.
Satori Part III (Yamanaka/Ishima/Kozuki/Wada) - 10:44


04.
Satori Part IV (Yamanaka/Ishima/Kozuki/Wada) - 11:01


05.
Satori Part V (Yamanaka/Ishima/Kozuki/Wada) - 7:58





Letras:


Para
o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a:
https://genius.com/albums/Flower-travellin-band/Satori





Opinião
do Blog:


O público em geral dificilmente conhece e/ou já ouviu falar, mas, entre os aficionados em música setentista, este grupo é cultuado e uma referência: a Flower Travellin' Band.



Finalmente o RAC conseguiu trazer esta incrível banda para nossas páginas e com o que, pelo menos para quem faz o site, o seu melhor álbum: Satori.



Até mesmo como apontam as capas de seus outros discos, é muito perceptível, para os fãs mais atentos, como a Flower Travellin' Band era uma banda que apostava na ousadia. Não apenas no visual, marketing ou atitude, também em sua sonoridade.



Conjugando o que havia de melhor no Rock em seu tempo (e que época!) é bem fácil para ouvintes mais experientes perceberem a gama de ótimas influências que compunham o alicerce musical sobre o qual a Flower Travellin' Band construía sua sonoridade. Progressivo, Psicodélico, música Hindu/Oriental, Hard e até mesmo Heavy compunham sua musicalidade.



Isto somente é possível pelo fato dos músicos que compunham a banda serem bem acima da média. Joe Yamanaka é um bom vocalista enquanto Jun Kozuki e George Wada formavam uma seção rítmica de uma solidez impactante.



Mas, pelo menos para o RAC, o grande destaque é o guitarrista Hideki Ishima. Riffs impressionantes e solos estupendos colocam Ishima em um patamar muito elevado em termos de guitarristas.



Satori representa o ápice de tudo isto em conjunto. Embora esteja fisicamente dividido em 5 canções, o disco é muito melhor compreendido como uma estrutura única, uniforme e em constante mutação.



Enquanto a "Part I" remete diretamente ao incipiente Heavy Metal, em clara influência de Black Sabbath, "Part III" aponta referências de King Crimson, enquanto a "Part IV" apresenta que os caras beberam no Hard Bluesy de grupos como o Led Zeppelin.



Mas estas são as referências mais óbvias e fáceis de serem percebidas. Satori é bem mais que isso.



Seu arcabouço conceitual, construído envolto à ideia advinda da palavra Satori (iluminação), é plenamente desenvolvido com a perícia do grupo em construir ambientes e atmosferas diversas com sua musicalidade. Escuridão, angústia, diversão, enfim, traços que compõem a personalidade humana são apresentados no álbum, através das abordagens musicais de suas canções, refletidas naquilo que ouvinte percebe.



Enfim, Satori é um álbum magnífico de uma das bandas mais legais da virada entre as décadas de 60 e 70. A Flower Travellin' Band merece ser conhecida por todos os amantes da boa música. Satori é uma obra-prima que deve ser ouvida constante e incansavelmente. 





Fontes:
texto com informações preciosas encontradas no ótimo site Collectors Room


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